21 de abr. de 2012

A "Lemniscata" como Símbolo da Antroposofia

A lemniscata é uma figura geométrica em forma de hélice que é o sinal matemático do "infinito". Simbolicamente a lemniscata representa o equilíbrio dinâmico e rítmico entre dois polos opostos. O símbolo da lemniscata nos remete diretamente ao Arcano Maior do Tarot de número 14: "A Temperança", onde vemos uma mulher que mistura e equilibra, através de sucessivas misturas, dois jarros que contém água: um com água fria, outro com água quente. Conforme as sucessivas passagens de fluidos de um jarro a outro, e deste de volta ao primeiro, se processam, obtém-se o elemento morno (temperado). Esta carta corresponde à letra hebraica "Nun" na Cabalah. 

Da mesma forma, a lemniscata foi largamente usada nos desenhos celtas e insistentemente reproduzida em seus intrincados desenhos de formas. A lemniscata, principalmente em suas representações celtas, nos remete diretamente ao "Ouroborus", símbolo antiqüíssimo, resgatado pela tradição alquímica, onde se vê uma serpente que morde o próprio rabo e dovora-se a si mesma. O Ouroborus é também representação simbólica do Infinito e do equilíbrio dinâmico universal. 

Carl Gustav Jung, refere-se a este símbolo como o "Mysterium Conjuctionis" (Mistério da Conjunção), resultado do "Hieroghamos" (Casamento Sagrado), equilíbrio do Masculino e do Feminino Universais, essência fundamental da mente humana e, em uma visão mais ampla, da existência humana em si.

Ainda podemos observar a lemniscata nas curvas do Caduceus (o cetro da dupla serpente), símbolo da Medicina e manisfestação de Hermes; nos meridianos do fluir da Energia Vital descritos pelas medicinas tradicionais hindu e chinesa e pela Acupuntura. A lemniscata repete-se no próprio movimento das galáxias, das estrelas e dos planetas, na Astronomia e na Astrofísica. A lemniscata está presente na dupla hélice do DNA presente em todos os seres vivos deste planeta. Ainda verificamos a formação de lemniscatas nos movimentos pendulares observados na Física; na báscula do andar humano; no crescimento dos vegetais e na disposição de suas flores e folhas; nos movimentos de regência da musical; no movimento do Tao; em emblemas e símbolos de famílias tradicionais japonesas, em mandalas de diversas origens e épocas e, de forma abstrata, nos ciclos da Natureza e no equilíbrio psíquico entre o Pensar e o Querer, dando origem ao Sentir.

Em Antroposofia, a lemniscata mantém seu significado milenar, representando o equilíbrio dinâmico, prefeito e ritmico entre os polos opostos constitucionais do corpo humano: o polo metabólico e o polo neuro-sensorial. Como vimos, o polo metabólico (abdome) é quente, úmido, expansivo e inconsciente. O polo neuro-sensorial (cabeça, sistema nervoso central e órgãos do sentido) é frio, seco, contraído e consciente. Do equilíbrio deste dipolo, surge a vida humana em sua manifestação mais primordial: o ritmo. A lemniscata representa então o sistema rítmico (coração, pulmões e musculatura do tórax) que proporciona os sinais vitais mais básicos, equilíbrio físico e psíquico e harmoniza as essências opostas que nos compõem. Fazem parte ainda deste equilíbrio dinâmico rítmico, além do ritmo cardíaco e do ritmo respiratório, ciclos como o dormir e acordar (ritmo circadiano), a tendência à vitalidade (anabolismo) na infância e a tendência à esclerose (catabolismo) na velhice (ciclo biográfico) e, em última análise, o ciclo da vida e da morte (ciclo encarnatório). Assim, toda vez que inspiramos, que nosso coração entra em diástole, que acordamos pela manhã ou que usamos nossa função orgânica anabólica, confirmamos nosso nascimento. Analogamente, toda vez que expiramos, que nosso coração entra em sístole, que vamos dormir à noite ou que usamos nossa função catabólica, antecipamos nossa morte.

A forma geométrica da lemniscata é usada como base para todos os processos antroposóficos: desde a dinamização de medicamentos, até a criação de estruturas arquitetônica; passando por movimentos da Euritmia, desenhos da Terapia Artística e fluxos da Engenharia Antroposófica. As técnicas da Massagem Ritmica são totalmente baseadas na repetição de movimentos helicoidais diversos que reproduzem a lemniscata. Desta forma, consideramos a lemniscata o símbolo máximo da Antroposofia, resumindo em si todos os conceitos fundamentais aplicados em todas as práticas antroposóficas.

19 de abr. de 2012

Arte e Educação



Painél feltrado inspirado no conto de fadas " As Moedas estrelas"

                                    
NADA DETÉM O AMOR
NEM OS FECHOS MAIS DUROS
NEM AS TRANCAS
NEM OS MUROS
NÃO TEM FIM NEM COMEÇO
ELE É SEMPRE EXISTENTE
SUAS ASAS BATENDO ETERNAMENTE
Rudolf Steiner



            
        

                              Painel feltrado

A Pedagogia Waldorf baseia-se, como já foi mencionado, numa visão do ser humano elaborada por Rudolf Steiner, baseada numa ciência prática, moderna e ampliada pelo conhecimento da realidade anímica e espiritual. Ela leva à compreensão das fases evolutivas da infância e da adolescência, durante as quais se desenvolvem e se transformam as relações com o mundo e a capacidade de aprender.


Os conteúdos de ensino se relacionam com as respectivas faixas etárias dos alunos. Por isso a constituição das classes obedece ao princípio da idade. O que vale não é o rendimento ou uma diretriz qualquer, mas o resultado a que cada aluno pode chegar.

A Escola é um espaço pedagógico definido, em que os professores buscam o aperfeiçoamento consistente e abrangente do ser humano em formação, nos âmbitos do aprendizado, da criatividade e da formação da personalidade.

Os diversos conteúdos pedagógicos têm o caráter de um “instrumento”, de um recurso pedagógico.


A atividade destinada a formar os alunos considera, além dos resultados anteriores e imediatos, os “efeitos ainda distantes” dos elementos que compõem o plano de ensino, e contribui para que possa amadurecer e aperfeiçoar-se mais tarde o que foi aprendido e assimilado em dado momento. Trata-se de “semear”, tanto em relação à matéria como em relação à estrutura do ensino: as diversas matérias devem oferecer incentivos para o crescimento futuro e para novas abordagens de situações.  É preciso estimular a vontade de aprender, de investigar, de criar e de atuar em grupo. A instrução deve ser vista como instrumento para o desenvolvimento e para a transformação.

Temas da atualidade como pedagogia social, higiene, sexualidade, ecologia, comunicações, informática, e outros, são integrados no currículo. A diversidade da vida social, cultural e econômica encontra sua expressão condizente com a pedagogia, dentro do programa de ensino e nas várias formas práticas de ensinar e de exercitar.

A liberdade no ensino é o fundamento e a condição prévia para a realização da grande tarefa: “Educação para a liberdade”. Uma escola que pretende ser adequada à realidade precisa fazer com que os seus professores constantemente busquem a atualização de seus métodos e planos de ensino; o mesmo princípio vale para a estrutura do currículo e para a escolha dos temas a serem tratados. Por esse motivo, também os princípios didáticos têm apenas caráter de diretrizes. O princípio da exemplaridade é fundamental para a realização do currículo global. De acordo com as exigências da época, um professor poderá preferir conteúdos novos àqueles do passado (sem abandonar a meta da sua atividade formadora), ou ele deixará conscientemente de fazê-lo. Ele precisa ter a coragem de proceder a uma escolha de acordo com as necessidades pedagógicas, e ele não deve prejudicar o entusiasmo de aprender, a alegria de saber, a curiosidade, a postura de pesquisa e a admiração, pela vinculação a conteúdos prefixados e a um volume de informações. A escolha de assuntos a serem tratados deve naturalmente estar sujeita a vários critérios: que temas possuem uma dimensão universal ( por exemplo, narrativas do Antigo Testamento, a transição da visão ptolomaica do universo para o enfoque de Copérnico, o motivo de Fausto como expressão da luta do homem pelo conhecimento do mundo etc.); quais se relacionam com determinados povos (mitologia nórdica, mitos dos índios relativos à criação do mundo, sagas locais, geografia de vários países, canções dos povos, história nacional etc.) e quais os que reproduzem problemas de uma época (época do “Pequeno Burguês”, o Pós- Modernismo etc). Resulta dessas questões um campo imenso para a formação, em que os temas podem ser ampliados e atualizados, mas nunca diminuídos ou eliminados no que se refere ao aspecto humano em geral, tendendo a um “modernismo” que, muitas vezes, revela estreiteza de visão.

Direitos autorais reservados à Federação das Escolas Waldorf no Brasil.

18 de abr. de 2012

Autoeducação, liberdade e polêmica

Por Manoella Oliveira
Na concepção do filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), criador da pedagogia Waldorf, toda educação é autoeducação.  Aos professores e educadores, cabe o papel de criar um ambiente propício para que a criança se desenvolva, guiada por seu próprio interior, e de aprender com ela. “A pedagogia Waldorf quer formar adultos livres, que possam achar seu caminho por iniciativa própria”, explica Valdemar W. Setzer, professor titular (aposentado, mas ainda ativo) do Departamento de Ciência da Computação da USP.
O processo educacional acompanha as etapas do próprio desenvolvimento do ser humano: como as faixas etárias são acompanhadas de determinadas características, é com base nelas que o ensino é pensado. “Até seis anos e meio ou sete anos, por exemplo, o mais importante é ter um ambiente sadio para brincar, que incentive a imaginação. Esse ambiente deve proporcionar impulsos sadios para uma criança de até aquela idade aprender por imitação, pois essa é a ferramenta educacional mais importante. Dos sete aos 14 anos, é importante ter um ambiente escolar artístico, amoroso e caloroso, em todas as matérias”, diz Setzer. Segundo o professor, uma atitude essencial de um educador Waldorf é o profundo amor altruísta devotado a cada um de seus alunos, “algo que provavelmente não é ensinado em nenhum curso de licenciatura ou pedagogia”, afirma.
Idealmente, um mesmo professor ensina as disciplinas principais a uma turma, durante todos os anos do Ensino Fundamental. Essa é uma maneira de ele acompanhar o desenvolvimento dos alunos por anos e de evoluir com eles. A proposta é coerente com o método de avaliação das escolas Waldorf, que não atribui nota aos alunos no sentido tradicional nem força repetições de ano. A avaliação é subjetiva e os boletins mostram qualitativamente as falhas e sucessos do aluno em cada matéria, sugerindo o que pode ser feito para melhorar.
“A avaliação em uma escola deve ser permanente e não só feita durante uma prova. É pelo conhecimento de cada aluno que um professor pode dar um ensino individual mesmo em uma classe com muitos estudantes. Algumas escolas Waldorf dão provas no Ensino Médio, para preparar o aluno para enfrentá-las quando terminarem a escola. É muito importante reconhecer que uma prova não mede absolutamente nada, pois o conhecimento, a maturidade, o esforço e o interesse não são mensuráveis. A única coisa que uma prova mostra é a capacidade de o aluno responder as questões da mesma naquele momento”, defende o professor da USP.
Alfabetização e uso de eletrônicos
Outro diferencial da pedagogia Waldorf é que não é exigido da criança um pensamento abstrato, intelectual, muito cedo. Por isso, as crianças aprendem a ler apenas a partir dos sete anos. Setzer esclarece que Steiner constatou que antes dos seis anos e meio ou sete anos a criança está dedicando suas forças interiores ao desenvolvimento físico, à coordenação motora e aprendendo a controlar as manifestações de sua vontade. “Assim, ele disse que nessa fase não se deve solicitar a memória abstrata da criança, por exemplo, fazendo-a aprender a ler, pois as letras são hoje em dia símbolos puramente abstratos. Esse aprendizado prejudica o desenvolvimento sadio da base que a criança deve construir para ter uma vida posterior sadia, tanto física como psicologicamente”. O professor acrescenta que a alfabetização é feita de maneira lenta, lúdica e imaginativa e leva três anos para se completar: no primeiro ano são aprendidas letras de forma, no segundo as letras de imprensa e só no terceiro as letras cursivas.
Seguindo a mesma linha, Setzer afirma que, como o computador força um pensamento lógico-simbólico, ele também não deve ser usado antes do Ensino Médio. “O computador é uma máquina matemática e sempre força um raciocínio matemático e uma linguagem formal nos seus usuários. Antes da puberdade, parece-me que é prejudicial à criança ser forçada a pensar e se expressar dessa maneira, pois tanto o pensar como o falar não são bem delimitados e precisos”. O estudioso enumera quatro competências que o usuário da máquina deve ter para usá-la de maneira dequada: muito conhecimento e discernimento para reconhecer o que é bom e o que é mau, o que é belo e o que é feio, e o que é verdadeiro e o que é falso; muita autoconsciência para analisar como os aparelhos estão sendo usados, por exemplo, é necessário saber se estão sendo usados por períodos longos demais, se outras coisas importantes não sendo feitas em função disso, se a própria maturidade é adequada para o que se faz com os aparelhos e, finalmente, é preciso ter muito autocontrole para haver domínio sobre si próprio e não ser dominado pelas máquinas.
“Ora, muitos adultos não têm essas capacidades, às vezes, não se controlam e viciam no uso do computador e da Internet. O que esperar de uma criança ou adolescente que justamente estão desenvolvendo essas capacidades? Se já as tiverem, são crianças ou adolescentes degenerados, pois comportam-se como adultos em miniatura, tendo perdido pelo menos parte de sua necessária infância ou juventude”, conclui.
Expansão e perseguição
A pedagogia Waldorf, introduzida por Steiner, em 1919, em Stuttgart (Alemanha) se expandiu pelo mundo todo, inclusive no Brasil, e hoje conta com mais de mil escolas espalhadas pelo globo, mas seus métodos alternativos chegaram a incomodar governos durante a II Guerra Mundial, por incentivarem a liberdade individual. “Elas foram fechadas pelo nazismo e muitos de seus professores foram presos. Elas foram proibidas na União Soviética, onde era também proibida a entrada dos livros de Steiner. Nessa última, houve ainda um outro fator: como a base da pedagogia Waldorf é a Antroposofia, que é uma cosmovisão espiritualista. Isso ia contra a materialismo dialético propugnado pelo comunismo”, conta Setzer.
A Antroposofia, que vem do grego “conhecimento do ser humano”, foi fundada também por Rudolf Steiner no século 20 e  pode ser caracterizada, segundo Valdemar Setzer, como um método de conhecimento da natureza do ser humano e do universo, que amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional e suas aplicações. Por “cosmovisão espiritualista”, entende-se que ela não é materialista no sentido de achar que o ser humano e o universo são constituídos exclusivamente de matéria e energia físicas. “A Antroposofia admite a existência de membros não físicos no ser humano e, com isso, consegue explicar vários fenômenos como a vida e a morte, os estados de vigília e de sono, o destino (carma), o livre arbítrio, a consciência etc”, diz.
As aplicações práticas são possíveis em todas as atividades humanas, sendo as mais famosas a pedagogia Waldorf, a medicina antroposófica e a agricultura biodinâmica. Setzer reforça que “ela se dirige à compreensão de qualquer pessoa, e não à crença”, que “ela propõe um caminho de desenvolvimento interior e dá importância fundamental à preservação e incentivo da liberdade individual”.

13 de abr. de 2012

Castigo e Elogio (Leonore Bertalot)

A palavra castigo exige reflexão. Não gosto de usa-la quando se trata de educar crianças. O homem é um ser que aprende com seus erros, com as experiências e as consequências que os seus atos acarretam.

A criança cresce imitando, espelhando as experiências, as habilidades, os hábitos do seu meio. Ela realiza as suas experiências próprias: o fogo queima, a chama é quente, certos objetos quebram ao cair, outros cortam; a terra, o suco de frutas, o chocolate, etc, mancham, sujam a roupa, os galhos finos das árvores quebram; existem coisas "proibidas", provocando que os grandes gritem, se assustem, ou façam longo discurso, ou batam na criança que as toca, ou as come, ou as investiga etc. A tarefa do adulto é a de proteger o corpo e a alma da criança nos casos de grandes perigos e, no restante, guiar, acompanhar o menor nas experiências que a vida lhe oferece.

A criança pequena não erra, não atua por maldade.

Errar só pode quem sabe, mau só é quem conhece e sabe julgar entre o bem e o mal. Não se trata, por isso, de castigar a criança, mas sim, de ajudá-la a formar impulsos bons a partir de cada experiência.

Quebrou o vidro da janela? Ou a xícara preciosa da avó? O barulho, os cacos espalhados, a cara consternada ou triste dos grandes assustam a criança, fazem-na sentir com muita evidência a consequência do seu ato, premeditado ou não. Algumas recebem um grande choque e se este é aumentado por exclamações ou agressões físicas (que só são um desabafo de nossa emoção), a experiência é traumatizante e, não, pedagógica.

A criança "roubou" e "mentiu". Para que serve um castigo, tapas ou fechar no quarto, ou mesmo sermões insinuando que a criança pode ser rejeitada, marginalizada, até presa por tais atos? O ato deve ser analisado e julgado, nunca a criança.

Pegar coisas e dizer "não fui eu" não é ato de roubo e mentira na criança de 9-10 anos, nem defeito caracterológico do pré-adolescente, mas imaturidade ou consequência de atitudes incorretas do meio.

O comportamento difícil da criança é um alerta para adultos em seu meio, especialmente para os pais educadores. Falta de respeito, agressividade, sensibilidade exagerada podem ser sinais de carências várias: falta de amor, de interesse e de atenção às suas necessidades, atitudes rígidas demais ou negligência dos que devem dar exemplo.

Em vez de "castigar", prefiro usar a palavra recuperar ou consertar. Devemos "ensinar" como consertar estragos físicos ou psíquicos que causamos aos colegas, aos pais, à natureza etc.

O bom exemplo é um ato de educar bem mais eficiente que qualquer castigo.

Ser repreendido por uma pessoa que amamos muito é doloroso, constrangedor. Nós nos sentimos envergonhados, achamos que somos ruins, que não merecemos conviver com as pessoas que respeitamos.

Por outro lado, quando a pessoa amada nos elogia, a sensação é de felicidade profunda, sentimos um calor que nos permeia e um impulso de querer crescer e ficar sempre melhor.

Quem não conhece tais sentimentos? Dos dois podemos aprender algo para a vida.

O ser humano aprende e cresce como pessoa através das experiências que realiza. Uma reação de ira, como desabafo do adulto em resposta a um ato insensato do filho, não deixa de ser uma experiência esclarecedora sobre causa e efeito dos nossos atos, mas o efeito que produz na alma da criança não é o de fomentar a autoconfiança e a confiança no adulto, é o de faze-la sentir-se tolida, repelida.

Quando o ato da criança exige uma correção, esta será tanto melhor se, ao corrigir, também se criem nela impulsos necessários para crescer e melhorar.

Quando a correção precisa seguir logo o ato incorreto, respire dez vezes para poder agir com calma. Quando nossa reação não pode ou não precisa ser imediata, é bom preparar a conversa que iremos ter , talvez só a noite ou no dia seguinte, ou ainda no fim de semana. Estudar, então, junto com a criança, como pode ser consertado ou reposto o que foi estragado,; isto ajuda a querer crescer. Com crianças menores não serve muito conversar sobre o valor ou o perigo do que eles fizeram. Melhor é contar-lhes uma história em que alguém repara ou vence a fraqueza que causou o problema. Então a criança se identifica como herói da história que saiu vitorioso e passa a querer ser como ele.

É verdade que as vezes um tapa é melhor do que nenhuma reação do pai, na hora em que o ato da criança exige uma reprovação. Porém a agressão física, no melhor dos casos, é apenas uma muleta, uma substituição, por não nos ocorrer nada melhor. É nosso dever de adulto realizar um trabalho em nós mesmos, que nos possibilite aplicar correções mais construtivas.

 E o elogio deve ser autêntico, deve ser merecido, senão tem efeito contrário, só alimenta uma falsa auto-estima. Também a forma como elogiamos deve ter um efeito na alma da criança, que lhe infunda o desejo de crescer e melhorar sempre.

Acriança cresce ao nosso lado. Se ela percebe que nós também crescemos em acertos e autodomínio e que a ajudamos a consertar e corrigir o que ainda não foi certo, isto a encoraja a querer melhorar. Assim se cria um clima de confiança adequada para que sua alma possa desabrochar em toda sua plenitude.

(Leonore Bertalot)





9 de abr. de 2012

Segundo Setênio – 7 a 14 anos


Ao final do processo anterior, do 1o setênio, as forças que estavam na cabeça se libertam e migram para a região do meio do corpo.

A criança vai acordando de cima para baixo, na direção da cabeça aos pés, e, nesta fase agora, coração e pulmão são os órgãos que ancoram o processo respiratório com o mundo.

O elemento do movimento de interiorização e exteriorização pauta a dinâmica desses órgãos e a relação da criança com o mundo.

Ela já não é mais aberta para o mundo que a impregna, mas agora já possui uma interioridade maior e necessita de um elo de ligação entre o mundo de fora e o seu, interno.

O papel do adulto, pais e professores, tem uma grande influência neste período, pois é através dele, da autoridade que ela necessita e que eles possuem, que a criança receberá a imagem do mundo.

Portanto, os valores e ideais que o adulto possui pode beneficiar ou prejudicar a formação e visão do mundo infantil.

Se a autoridade é excessiva pode gerar uma maior inspiração do que expiração, desequilibrando o ritmo, e isso pode levar desde a uma timidez no futuro, à introversão, ou quadros somáticos de asma, etc .

Se, por outro lado, há falta de autoridade, se ela é insuficiente para o estabelecimento de normas tão essenciais neste período, a expiração maior pode conduzir à extroversão exagerada, que leva a criança a desconhecer seu limite e o do outro, até quadros mais histéricos, de dissolução da identidade.

Esses elementos precisam estar em harmonia para nos sentirmos bem e, se na fase correspondente à esses acontecimentos isto não ocorreu, é introduzindo o ritmo na vida do presente que se resgata o equilíbrio.

Assim como as normas, os hábitos estão sendo absorvidos, e portanto, a dosagem entre uma educação muito rígida ou muito liberal, deveria ser observada, pois tanto a imposição quanto a ausência de valores pode impedir um desenvolvimento sadio.

 Nesta fase, onde o sentir está sendo tecido, a fantasia é muito importante, e daí a qualidade de imagens que a criança pode entrar em contato é fundamental ; situações onde ela pode criar, como ouvindo estórias infantis, contos de fadas, ou mesmo brincar com brinquedos que promovam a sua participação, é muito diferente daquelas onde, por exemplo, ela é mera expectadora, como no caso da televisão, ou de jogos e brincadeiras que não estimulem a sua criação, com brinquedos prontos, acabados, sintéticos.

Arte e religião são também fundamentais para a alma da criança que anseia por veneração. Assim, tanto o mundo artístico quanto o religioso são ricos em possibilidades para fazer fluir a alma infantil para o mundo. Como há uma busca natural pela beleza e pela fé, vivências do belo são fundamentais para um respirar com o mundo, assim como o desejo pela ligação com uma qualidade superior, elevada e espiritualizada consigo mesmo e com a vida.

É então que, no meio desta fase, o sentimento de diferenciação, por assim dizer, se estabelece fortemente, e a criança percebe com verdadeiro sentimento e uma espécie de dor, que existem diferenças: de educação entre si e os irmãos, diferenças de tratamento entre as pessoas, de raça, religião, cultura, enfim, situações onde ela se dá conta de que o mundo não é igual para todo mundo, que a lei não é a mesma para todos.

É, na verdade, um profundo despertar do sentimento próprio.