31 de ago. de 2013

Os quatro temperamentos

Por mim

Antes das características dos temperamentos, é importante entender que:

1-      O temperamento é o humor predominante, ele habita a região entre o corpo e a alma humana.

2-      O temperamento é incontrolável, não muda. É diferente da personalidade. Ele (temperamento) não deve galopar na personalidade.

3-      O temperamento é composto de duas tramas que o compõem: energia e excitabilidade.

a-      Energia: força/capacidade para suportar os golpes da vida;
b-      Excitabilidade: força/capacidade de reação.

4-      Não existe um ser humano com um temperamento puro. Tem um que se sobressai e três que mesclam.

5-      Para descobrir o temperamento predominante comece pela exclusão dos opostos.

6-      Existem, ainda, as tendências que variam em conformidade com o sexo.

7-      Os temperamentos são as cores refletidas no mundo.

8-      Em relação às cores:

a-      Luz: amarelo, vermelho, laranja.
b-      Trevas: verde, azul, purpura.

9-      Passamos por todos os temperamentos durante as fases da vida:
Ex: Bebê: fleumático, Criança até aproximadamente os 7 anos: Sanguíneo,  Adolescência: Colérico etc

10-   A entidade humana é portadora de 4 corpos:

*Físico – terra (também presente no reino mineral) – sentidos - hereditariedade

*Etérico- água – sistema linfático - ritmo - memória (também presente nos reinos vegetal e animal) Renova-se diariamente com o sono, das 21h às 3h. - hereditariedade

*Corpo Astral – ar (também presente no animal) - nervos – corrente espiritual
Uma forma de reativar o C.A. é admirar o belo. Parar e contemplar.

*Eu – fogo (somente humano = (auto) consciência)- sangue – corrente espiritual
Uma forma de reativar o Eu é evitar a crítica extrema/destrutiva.

TEMPERAMENTO COLÉRICO:

Tendências: Homem – Melancólico. Mulher- Sanguíneo
Elemento: Fogo
Trama: muita energia e muita excitabilidade
Cor: Vermelho
Verão. Quente, não gosta do inverno, de frio.
Animal: leão
Símbolo: Paus

Não suporta críticas. Adora desafios. Tem gestos curtos, rígidos, bruscos. Egocêntrico. Na matemática prefere a divisão. Na música a percussão. Evangelho de Marcos.

Andar: Firme, cravando os calcanhares no solo.
O “Eu” penetra até o calcanhar (quente)

Modo de falar: Forte, abrupto, enfático, vigoroso, apropriado, expressivo, convincente, irônico, explosivo.

Relacionamentos: amigável enquanto puder manter a liderança, fiel, leal.

Vestuário: Gosta de alguma coisa individual e peculiar.

Poder de observação: Examina o que interessa mas se esquece.
Memória: pobre

Interesse: O mundo, ele próprio, o futuro.

Atitudes: de comando, agressiva, eventualmente compreensiva.

Disposição: Entusiástico nobre, magnânimo, generoso, intolerante, impaciente, aventureiro.

Desenhos de crianças coléricas: vulcões, precipícios com a própria conquista de obstáculos. Cores fortes.

Características físicas: Baixo, atarracado, pescoço grosso, ereto, rosto cheio de ângulos, bocas pequenas, olhos ativos, geralmente sentam à beirada da cadeira.

Quase não adoecem, mas quando acontece caem de cama.

Órgão: fígado

Alimentação: refrescante, com cores quentes: melancia, líquidos. Condimentos. Cereal: Aveia.
Evitar: Bebida alcoólica, estimulantes.

Perigo: Raiva
Grande perigo: demência.

O educador (mãe, babá, professor) colérico deve dominar sua cólera. Se não o fizer a criança se assusta e aos 45/50 anos se tornará um adulto doente (sangue, metabólicas, reumáticas).

TEMPERAMENTO FLEUMÁTICO
Tendências: Homem – Sanguíneo. Mulher-melancólico.
Elemento: Água (formas arredondadas)
Trama: pouca energia e pouca excitabilidade.
Cor: verde
Semiconsciência
Outono.
Animal: boi
Símbolo: copas

Aparência amável, harmoniosa. Sempre feliz, ama comer e beber. Ri muito. Gestos intencionais, lentos e deliberados. Gosta de rotinas. Tem hábitos determinados. Olhos vivos, com brilho.  Na matemática: adição. Na música: piano. Evangelho de Mateus.

Andar: Lento, ondulante, lateral (marcas no sapato). Move-se esmagadoramente.
A alma permeia o corpo.

É lento para tomar decisões, mas quando decide sustenta.

Modo de falar: Ponderado, lógico, claro.

Relacionamentos: amigável, mas reservado (insensível, impassível), simpático, fiel, leal, honesto.

Vestuário: Tem um gosto conservador.

Poder de observação: Observa e relembra tudo com exatidão quando suficientemente desperto.

Memória: boa com relação ao mundo exterior.

Interesse: O presente sem envolvimento. Não se preocupa com o futuro. Não guarda mágoas.

Disposição: Estável, metódico, letárgico, confiável, satisfeito maternal, pontual.

Atitudes: objetiva.

Desenhos de crianças fleumáticas: Suave, branda, desinteressante, inacabada na aparência.

Características físicas: Forte, rosto redondo, com gorduras (tecido adiposo), quando mais gordinhos apresentam o “terceiro queixo”, olhos sonolentos, letárgicos, quase semicerrados.

Alimentação: Saladas, pimenta, temperos picantes. Açúcar bom: Mel, geleia, frutose.
Evitar: água durante as refeições, muito sal, gás (refrigerantes), alimentos que demoram germinar. Cereal: arroz.

Quando adoece não sai da cama
Sistema linfático.

Homeopatia: Mercúrio.

Perigo: Ausência de interesse pelo meio.
Grande perigo: Apatia com grande tendência à idiotia.

O educador (mãe, babá, professor) fleumático deve dominar seu não envolvimento com o externo. Se não o fizer paralisará o “assimilar” do aluno e este então terá uma grande possibilidade de desenvolver doenças degenerativas (esclerose, Alzheimer).

TEMPERAMENTO MELANCÓLICO:
Tendências: Homem – Fleumático. Mulher- colérico.

Elemento: Terra
Cor: Azul
Trama: grande energia, pouca excitabilidade.
Consciência.
Inverno.
Animal: águia
Símbolo: Ouro

Introvertido e reflexivo. Isolamento. Olhos sem brilho, trágicos, tristes, pesarosos. Pálpebras cerradas. Gosta de ocupação solitária. Gestos desanimados. Pouca flexibilidade. Apego material. Na matemática: subtração. Na música: cordas. Evangelho João.

Andar: Lento, com tendência a inclinar-se, marcha inclinado, com braços em movimento. Não corre, tem dificuldade de movimento das pernas. Arrasta os pés para andar.
A alma não consegue permear o corpo.

Modo de falar: hesitante, fraco, deficiente, não completando as sentenças.

Relacionamentos: fraco, tem simpatia somente pelos companheiros de infortúnio.

Vestuário: Escolhe roupas monótonas, sem vida, desleixadas. É difícil de agradar.

Poder de observação: Observa pouco, mas lembra de tudo.

Memória: boa com relação ao mundo que se refere a ela própria.

Interesse: Ele e o próprio passado.

Disposição: Auto- absorto, facilmente deprimível, medroso, desagradável, mal humorado, dramático, prestativo, artístico.

Atitudes: egoísta, vingativa, auto sacrifício em casos de sofrimento.

Desenhos de crianças melancólicas: Cores harmoniosas e fortes (tentativas de detalhar demais).

Características físicas: Grande, ossudo, membros pesados e a cabeça inclinada. Da cintura para baixo tem características mais rústicas.

Alimentação: Come pouco, é meticuloso. Gosta de alimentos doces.  Óleos extraídos a frio. Cereal: milho.
Evitar: raízes, batatas, mandioca, folhas.
Jogar fora as duas águas de cozimento da mandioca.

Sente um desconforto constante na região do peito.
Parte óssea.

Homeopatia: fósforo.

Perigo: Não superar seus sentimentos
Grande perigo: fanatismo.

O educador (mãe, babá, professor) melancólico deve dominar sua frieza, sua distância. Se não o fizer o aluno terá uma grande possibilidade de desenvolver doenças cardíacas e digestivas na fase adulta (úlcera, gastrite).

TEMPERAMENTO SANGUÍNEO
Tendências: Homem – Colérico. Mulher- Fleumático.

Elemento: Ar
Cor: Amarelo
Trama: pouca energia, muita excitabilidade.
Primavera.
Animal: gato
Símbolo: espada

Aberto para o mundo, falante, atento, sensível, distraído. Luz. Volatilidade.
Excesso de movimento. Vivência com música. Impulsivo, vaidoso. Dificuldade de se envolver em grupos. Comunicativo, não guarda segredos, curioso, nervoso, vaidoso. Entusiasmado, musical, alegre, veloz, ágil, transparente. Na matemática: multiplicação. Na música: sopro. Evangelho de Lucas.

Andar: Leve, compasso rápido, disparando as pontas dos pés.

Modo de falar: Eloquente com linguagem floreada.

Relacionamentos: amigável com todos, caprichoso, inconstante, alterável.

Vestuário: Gosta de coisas novas e coisas coloridas.

Poder de observação: Observa tudo e esquece tudo.

Memória como uma peneira.

Interesse: O presente imediato.

Disposição: Mutável, inconstante, superficial, irresponsável, gentil, impaciente, amigável.

Desenhos de crianças sanguíneas: Muitas cores brilhantes, movimentos e detalhes.

Características físicas: Magros, rosados, olhos brilhantes.

Alimentação: Precisa se ligar a Terra. Deve comer raízes fundas, farinhas integrais, arroz integral. Cereal: painço.
Recusar: condimentos
Come pouco.

Homeopatia: cobre.
Cuidar da tireoide

Perigo: Muito volúvel
Grande perigo: Loucura.


O educador (mãe, babá, professor) sanguíneo deve prestar muita atenção no que as crianças dizem. Se não o fizer causará uma deficiência no corpo etérico do aluno e este então terá uma grande possibilidade de desenvolver doenças como depressão e doenças mentais na fase adulta.

27 de ago. de 2013

Pedagogia Waldorf: um bem social

Poderia um médico opinar sobre pedagogia?
Minhas filhas estudam em uma escola de Pedagogia Waldorf: a Escola João Guimarães Rosa. Ribeirão Preto tem a oportunidade de ter a pedagogia mais indicada para ser oferecida às crianças, e por isso ofereço minha visão a respeito.
A perspectiva do que é o ser humano do ponto de vista da Antroposofia pode ser retirada dos textos do Antroposofiando. Quem quiser acessar os artigos é só clicar no site doPeregrino, no setor de Antroposofia. Quem quiser ir atrás de mais literatura, veja os sítios na internet da Editora Antroposófica (www.antroposofica.com.br) e João de Barro (www.editorajoaodebarro.com.br).
No início de minha vida profissional demorei a compreender o que Rudolf Steiner propunha ao dizer que uma pedagogia exercida de forma correta teria um caráter de medicina preventiva. O que uma coisa tinha a ver com a outra? Eu me perguntava. Hoje entendo perfeitamente o que ele dizia. Uma pedagogia antroposófica propõe o ensino de acordo com a fenomenologia do desenvolvimento das crianças. Steiner lançou as bases dessa concepção pedagógica e quando a vejo sendo praticada dou-lhe plena razão. A Pedagogia Waldorf é mais do que levar uma proposta de saúde às crianças. Baseado na minha observação assim eu aponto:
- observo a professora cumprimentar individualmente a criança ao entrar na sala de aula: a criança aprende a ser saudada, a ser considerada e já recebe, portanto um primeiro contato no dia. As crianças fazem fila para isso e aguardam pacientemente a sua vez. Recebem um gesto de atenção individual, consideração, e aprendem a ter paciência, captam um exemplo de educação;
- as salas de aula têm número pequeno de crianças. Significa que o professor tem mais condição estrutural de conduzir o grupo e naturalmente há mais disponibilidade para atender as demandas individuais;
- as crianças pequenas não são avaliadas pelas formas das clássicas provas: não são levadas a uma situação de estresse tão habitual em nosso meio. Não são instadas a produzir sob essa forma de pressão. E não deixam de aprender por isso! E não formam adultos que só produzem sob pressão...;
- a metodologia Waldorf se utiliza do recurso da fantasia para o aprendizado. Os instrumentos da arte permeiam todo o ensino, o caráter e a identidade do método. Isso estimula a criatividade além de evitar que sejam incutidos quaisquer conhecimentos de caráter unilateralmente abstrato. Resulta que as crianças aprendem a correlacionar o conhecimento com o real fenômeno das coisas. Isso evita um ensino baseado unicamente na memória, em que o que é passado para ser aprendido não faz sentido. Seja na conexão dos conhecimentos, seja no porquê daquilo. Como reminiscência, lembro do quanto me perguntava enquanto garoto do que me serviria aquilo que era obrigado a aprender, além de que a escola era uma chatice só...;
- para tal, entre outras ações, também a escola põe no currículo, viagens anuais relacionadas ao conteúdo de cada ano. Uma oportunidade de aspirar e vivenciar um conteúdo vivo, palpável, real (num mundo repleto de estímulos virtuais = não verdadeiro);
- Minha filha mais velha usou de uma tarde inteira para me confeccionar um presente de aniversário. Ninguém a estimulou para isso. Ela tomou sua decisão, bolou o “projeto” e realizou a obra por completo. Afora minha satisfação por esse carinhoso presente, ela demonstrou iniciativa, criatividade e capacidade de execução. Eu sei que isso provém da Pedagogia Waldorf, que é baseada em estimular as crianças a criarem soluções que partam de si mesmas. Por isso tenho dialogado com ex-alunos de escolas de ensino Waldorf e tenho colhido relatos do quanto eles tendem a buscar soluções por livre iniciativa. As crianças são conduzidas a buscarem alternativas de resoluções por si mesmas, então é o ensino de aprender a aprender. E não o de repetir padrões ou usar de métodos bolados por outros. Que é a camisa de força tão comum em nossa sociedade. Caso das provas, não é? Onde se recebe maiores notas, por quanto mais se consegue apenas repetir com maior fidelidade aquilo que foi introjetado. É o equívoco de valorizar as pessoas multiplicarem padrões, o que enfraquece o afloramento das riquezas das diversidades e heterogeneidades individuais;
- quem for a Escola João Guimarães Rosa não pode deixar de olhar para o espaço e a arquitetura. O ambiente foi idealizado em compatibilidade com a sua forma de ensinar. Há uma forma orgânica, com movimento que “diz” algo de positivo aos seres humanos ali presentes. A arquitetura se nutre da mesma visão da pedagogia, buscando um todo harmônico;
- durante o percurso escolar das crianças ao longo dos anos, os pais são estimulados a participarem de diversas ações relacionadas aos seus próprios filhos e à comunidade escolar em geral. Enquanto nas escolas convencionais os pais pagam para não terem responsabilidades, nas escolas Waldorf, eles pagam para serem participativos. A estrutura de gestão praticada leva os pais a serem co-responsáveis por todas as atividades escolares. As festas são realizadas pelos professores, funcionários e pais. As alegrias, as satisfações, o engajamentos dos pais com a finalidade pedagógica leva às crianças exemplos de um acompanhamento conjunto e cuidadoso;
- o que sempre foi praticado, e que era um exemplo, virou lei no terreno pedagógico convencional: as crianças especiais são colocadas junto às crianças sem distúrbios, desde pequenas. O que isso leva? Uma natural observação de um ser em crescimento a ver que outras pessoas têm em si uma inerente dificuldade. Já de cedo se oferece a oportunidade de aprender a lidar com as diferenças, de ter tolerância, de lidar com posturas e ações colaborativas. E no decorrer do tempo, fica muito claro, o quanto as crianças que necessitam de cuidados especiais também são beneficiadas por esse processo;
- a música faz parte da rotina escolar, reforçando a premissa da arte. Suas manifestações elaboradas e adquiridas por cada classe são demonstradas para o público escolar nas chamadas festas semestrais. Ali se pode apreender um pouco do que é praticado dentro das salas de aula. Para mim que não fui aluno de um aprendizado Waldorf, essas festas são momentos tocantes por toda a beleza em sentido mais amplo, aí configurado. Percebo que para o grupo fazer uma apresentação musical, as crianças precisam prestar atenção às outras e sincronicamente saí o resultado de um trabalho de grupo, um exercício de coletividade, onde o amálgama musical junta as diferenças de cada um para formar uma conjunção harmoniosa, com muito treinamento e esforço implícito ali. Enfim, a música entre outros bens espirituais que nos traz, estimula a criança a ser disciplinada;
- as atividades escolares são elaboradas para oferecer uma evolução cognitiva, de acordo com o patamar de desenvolvimento neurobiológico das crianças. Esse bem de imenso valor sugerido por Steiner molda a forma de atuação dos professores: os ensinamentos somente são dados a partir do momento em que o ser humano, naquela fase de crescimento infantil, apresenta-se pronto para acolher o aprendizado. Então nada é levado a uma precocidade tão em voga atualmente. É como se a criança dissesse: agora estou pronta para aprender algo novo e com complexidade diferente. Isso não gera atropelamentos no desenvolvimento infantil e é prevenção para Disfunções Cerebrais Mínimas, por exemplo;
- outro bem: não há estímulos para competição. Há uma segura linha de ensino onde observo que as crianças vão evoluindo em conjunto no adquirir dos novos conhecimentos e com reflexo no comportamento social. Outro dia tive a ótima oportunidade de ver os adolescentes, em fase de saída da escola por estarem terminando seu ciclo, irem brincar de maneira organizada, com as crianças do primeiro ano. Presenciei uma sensível manifestação de alegrias mútuas devido àquela interação;
- Assim a Pedagogia Waldorf, não prepara os seres humanos para a competição, por exemplo, o vestibular. Ela prepara os seres humanos para a vida, para as suas escolhas individuais. Conduz os adultos a resolverem problemas de maneira criativa e partindo de uma livre iniciativa. Quem sabe de seu valor não precisa competir com o outro, não precisa medir forças, não precisa derrubar o oponente. Quem se autodetermina, tem auto-estima e certamente adoecerá menos.
Caso alguém queira olhar para os “resultados” da metodologia Waldorf, leia sobre “Os sete mitos da inserção social do ex-aluno Waldorf”, pesquisa elaborada pelo casal de pais da Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo, Wanda Ribeiro (socióloga) e Juan Pablo de Jesus Pereira (engenheiro civil e empresário), disponível na home-page da Sociedade Antroposófica no Brasil (www.sab.org.br).
Clínica Médica e Reumatologia Antroposóficas. Consultor Biográfico

20 de ago. de 2013

Nutrição Antroposófica


Por Marcelo Guerra


Alimentação equilibrada é sinônimo de boa saúde. Quem come moderadamente, procurando variar os alimentos e se preocupando com a sua procedência, certamente terá mais resistência às doenças, vigor, disposição e energia. Somos aquilo que comemos: quem ingere alimentos sadios terá um organismo são. As pessoas que consomem alimentos de origem duvidosa, ricos em substâncias artificiais (corantes e conservantes, além de adubos químicos e agrotóxicos na origem), açúcar e gorduras em excesso, certamente serão fortes candidatas a adoecer e desenvolver os chamados males da civilização, como excesso de peso, diabetes, problemas circulatórios, cálculos renais e na vesícula, entre outros.


Nas grandes cidades, porém, o ritmo de vida frenético faz com que as pessoas se alimentem mal, em horários irregulares, ingerindo rapidamente uma refeição ligeira nos fast-foods. Somos bombardeados pela mídia com apelos irresistíveis e procuramos compensar nossas carências e problemas emocionais comendo coisas “gostosas”, compulsivamente, até mesmo sem estar com fome. E só interrompemos esse círculo vicioso quando o médico nos faz um sério alerta ou a doença nos pega de surpresa.


Antes que isso aconteça, no entanto, o melhor é fazer uma pausa e tentar mudar a alimentação. Pessoas espiritualizadas, em busca de sua verdade interior, certamente irão se identificar com os conceitos da alimentação antroposófica, cujo principal objetivo é manter o organismo sadio e promover sua união com o “eu” espiritual. Mais que isso: esse tipo especial de alimentação, unida à medicina antroposófica, procura curar e prevenir doenças.


A nutricionista Cristina Bustamente é uma das divulgadoras da alimentação antroposófica e entusiasta dos seus benefícios. Ela explica que a base dessa alimentação são os alimentos orgânicos, cultivados sem o uso de adubos químicos ou inseticidas, e biodinâmicos, plantados segundo os princípios da agricultura biodinâmica, desenvolvida pelo criador da antroposofia, Rudolf Steiner. É permitida a ingestão de carne vermelha e branca, desde que os animais sejam criados em liberdade e não recebam hormônios ou ração. Também não há restrições contra a carne dos peixes, ricas em gorduras insaturadas.


O grande segredo é moderação e variedade. Ou seja: pode-se comer carne, desde que em pequenas quantidades e somente alguns dias por semana. A grande fonte de proteínas devem ser os laticínios, as leguminosas – como feijão, lentilha, ervilha e grão-de-bico – e os ovos (apenas duas vezes por semana). O açúcar deve ser substituído pelo mel ou melado e os doces pelas frutas secas. Pode-se usar também a stévia, um adoçante extraído de plantas, pois estudos indicam que ela favorece a circulação, reduzindo as possibilidades de arteriosclerose.


Margarina e banha de porco também devem ser deixadas de lado e substituídas pela manteiga e pelo óleo vegetal prensado a frio. A manteiga e o creme de leite, embora sejam de origem animal, por se dissolverem à mesma temperatura do corpo humano, não são vistos como vilões formadores do mau colesterol, mas como fontes de vitaminas, sais minerais e boas gorduras, que irão ajudar na sintetização de hormônios. Mas a sua ingestão deve ser limitada a duas colheres de chá de manteiga e uma colher de sopa de óleo por refeição.


Os alimentos podem ser assados ou cozidos e jamais fritos. Além disso, quem ingere bastante fibras de origem vegetal conta com o seu auxílio para absorver e levar consigo, nas fezes, o excesso de colesterol. As crianças, por sua vez, precisam consumir um pouco mais de gordura, pois estão em fase de crescimento e necessitam dela para a estrutura das células e síntese dos hormônios.


Também há restrição contra a ingestão de batatas e tomates, por serem plantas da família das solanáceas, que geram substâncias químicas denominadas saponinas, as quais são tóxicas e destroem as células sangüíneas. Deve-se igualmente evitar os cogumelos, que crescem no escuro, sem luz, sobre substâncias em decomposição, retendo uma energia negativa. Já os vegetais que se desenvolvem sob a luz do Sol e realizam o processo de fotossíntese retêm essa energia positiva e benéfica, que é transmitida ao ser humano.


Os brotos de sementes – como os de alfafa, ricos em vitamina C, feijão, etc. – também são recomendados como fontes de vitaminas, sais minerais e, por conterem hormônios de crescimento, benéficos às nossas células. Além disso, sua energia é extremamente positiva, pois neles a vida está em seu apogeu. Mas quem adora batatas, tomates, cogumelos e até mesmo chocolate não precisa ficar em pânico: “Nada faz mal quando consumido em pouca quantidade e esporadicamente. Comer uma pequena porção de batatas ou umas fatias de tomate de vez em quando, ou um pedacinho de chocolate, para matar a vontade, não vai prejudicar ninguém”, ensina Cristina Bustamante.


“Na visão antroposófica, a alimentação especial e equilibrada pode estar nos beneficiando tanto no plano físico quanto no etérico. Ou seja: tanto nas funções fisiológicas, como na parte emocional ou espiritual. Daí a necessidade de se estar vendo a alimentação não só como um instrumento para a saúde, mas também para o autodesenvolvimento, na medida em que o corpo é o instrumento da alma”, explica.


Ao ingerir alimentos puros que não degradam o meio ambiente, o ser humano está se integrando à natureza e também ao cosmos, ampliando sua percepção espiritual. A antroposofia pressupõe que, além do nosso corpo físico, temos mais três corpos sutis “acoplados” a ele: o corpo vital, o corpo astral (das sensações e emoções) e o corpo do eu, relacionado com o espírito. Assim como o corpo físico é alimentado pelas substâncias físicas provenientes dos alimentos, os corpos sutis também são “alimentados” pelas substâncias energéticas contidas nesses mesmos alimentos.


Os alimentos de origem mineral são desprovidos de vida e devem ser ingeridos moderadamente, como é o caso do sal e do açúcar. (O açúcar é de origem vegetal, mas tem características de um mineral.) Sal e açúcar em excesso tendem a “mineralizar” o nosso corpo, enrijecendo as articulações, criando cálculos nos rins e na vesícula e nos desvitalizando. O animal, por sua vez, já utilizou parte da sua energia etérica, transformando-a em instintos e sensações. Por isso, a ingestão de carne animal irá sobrecarregar o nosso organismo, que terá de destruir essa energia astral estranha, além de nos transferir as qualidades desses seres, como excesso de agressividade e sensualidade. Nesse caso, a exceção fica por conta do leite e dos ovos. O leite contém ainda energia etérica altamente benéfica, isenta de energia astral, pois se destina a transmitir vida a uma cria, sendo “doado” com amor. O ovo fecundado, da mesma forma, contém a vida em seu interior, pronta para se desenvolver, mas não tem a energia astral da própria ave.


O segredo de uma alimentação sadia, sob o ponto de vista da antroposofia, não está apenas em ingerir alimentos saudáveis e descontaminados, mas que sejam igualmente frescos e cheios de energia etérica vital. Isso não acontece com as conservas, congelados, alimentos industrializados e enlatados, que devem ser deixados de lado. Da mesma forma, não se recomenda o uso do forno de microondas, na medida em que esse tipo de ondas destrói essa energia benéfica. O melhor é sempre cozinhar pequenas porções de alimentos e evitar que fiquem “rolando” na geladeira. No entanto, é viável cozinhar uma refeição à noite e guardá-la na geladeira a fim de ser ingerida no trabalho, durante o almoço. Nesse caso, porém, o indivíduo terá de comer alimentos frescos nas demais refeições.


O uso correto dos utensílios de cozinha também é fundamental para conservar a energia etérica dos alimentos. As panelas mais indicadas são as de aço inoxidável, vidro e pedra-sabão, por não desprenderem resíduos. As que causam mais danos são as de alumínio, na medida em que partículas dessa substância ingeridas diariamente podem, a longo prazo, causar doenças. Da mesma forma, deve-se evitar o uso de papel alumínio ou utensílios desse material para guardar água, sucos ou comida.


Alimentação variada – Segundo a nutricionista Cristina Bustamante, “a grande crítica contra a dieta vegetariana ou com pouca ingestão de carne é que há o risco de a pessoa ficar anêmica. Mas uma dieta equilibrada e balanceada irá fornecer ao organismo todos os nutrientes de que necessita, especialmente o ferro. É verdade que o ferro de origem animal é absorvido mais rapidamente pelo nosso aparelho digestivo, porém, quando ingerimos os alimentos vegetais ricos desse metal, o nosso organismo ‘aprende’ a processá-lo de maneira mais eficiente”, explica. Além disso, é igualmente importante ingerir leite fresco integral de boa qualidade e laticínios como fontes de vitamina B12, presente na carne. Quanto mais variada for a alimentação, melhor, porque aí o indivíduo terá a certeza de estar ingerindo todos os elementos necessários ao bom funcionamento do seu organismo. Porém, são contra-indicadas as vitaminas, sais minerais e oligoelementos sintetizados, por serem substâncias artificiais e estranhas ao nosso corpo.


Os laticínios (leite, queijos, iogurtes e coalhadas) e os cereais (arroz, centeio, aveia, trigo integral, painço, trigo sarraceno, cevada e milho) são alimentos ideais para serem consumidos diariamente. Já as leguminosas, como feijão, lentilhas, ervilhas e grão-de-bico, são boas fontes de proteína, mas devem ser ingeridas apenas três vezes por semana, durante o almoço. Os ovos podem ser comidos cozidos, ou entrar na composição de pratos; o seu consumo, porém, deve se limitar a duas unidades por semana.


Cristina Bustamante faz uma observação importante: não adianta nos preocuparmos apenas com o organismo e ignorarmos o nosso lado emocional, pois corpo e alma estão ligados e são, na verdade, uma coisa só. Quem se alimentar corretamente com certeza vai ficar mais forte e irá adquirir resistência contra doenças. Mas poderá adoecer se continuar introjetando seus medos, frustrações, angústias, raiva, ódio e amarguras, que poderão desencadear males crônicos, como artrites, gastrites e gerar até mesmo um câncer. “Devemos resolver as nossas pendências emocionais por meio de terapias, a fim de que tenhamos uma mente sã num corpo são, buscando a nossa paz interior”, adverte. Ela também não descarta fatores genéticos co- mo a origem de doenças e até mesmo pendências carmáticas trazidas de outras vidas.