21 de mar. de 2014

O Conselho de Pais Waldorf sob a ótica da trimembração social e o representante de classe

Por mim, Andreza

Neste ano de 2014 ingressei, junto com meu marido, no Conselho de Pais da escola em que nossos filhos estudam. Nossa proposta dentro da escola Waldorf sempre foi formação de pessoas e com isso trilhar nosso (auto)conhecimento. No início foi bastante confuso, já que a escola, apesar de ter 27 anos, não tinha um regimento pronto e o Conselho de Pais era representado pelas mesmas pessoas ha anos. Convidamos, então, as fundadoras da Escola para nos "tutorar". Foi uma vivência maravilhosa, pois, além de ter o prazer da presença das "mães" da Escola depois de quase 08 anos de suas saídas, juntamos 18 pais para formar nosso Conselho. Tínhamos praticamente um pai por sala (nossa escola vai do maternal ao 12º ano). Aprendemos sobre a Trimembração Social, criamos perguntas, encontramos, em grupo, as respostas. Fizemos uma eleição sociocrática para eleger a coordenação de nosso Conselho e iniciamos o trabalho em um grupo harmônico. Pela riqueza do conteúdo construído, compartilho com vocês minhas percepções: 

O Conselho de Pais Waldorf existe para representar os anseios de todos os pais da comunidade escolar e ajudar o Corpo Docente a criar as melhores condições para o bom resultado do desempenho pedagógico. Cada escola tem a liberdade de regulamentar sua forma de trabalho, construindo seus próprios regimentos.
Sob a ótica da Trimembração Social proposta por Rudolf Steiner, o Conselho formado por pais, provedores da escola, é o guardião da fraternidade econômica, enquanto o Colegiado de Professores representa a liberdade cultural/espiritual e a Diretoria Mantenedora a igualdade jurídica/política.

Desta forma, o Conselho de Pais é um dos três pilares da Escola Waldorf.

Ainda sob a ótica da trimembração, o Conselho de Pais pode ser trimembrado em suas funções: Vejamos alguns exemplos:


1- FRATERNIDADE - SETOR ECONÔMICO – NECESSIDADES FÍSICAS 


1.1- Arrecadação de fundos para a escola; 

1.2- Adequar as possibilidades dos pais para participar efetivamente da escola através de bolsa de estudos, material coletivo, transporte dos alunos etc;

1.3- Arrecadação de fundos para formação de professores, gestores, funcionários e pais; 

1.4- Controle das finanças geridas pelo Conselho de Pais. 

As habilidades sociais esperadas de um conselheiro neste setor são: Identificação com os ideais da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf , inteligência, raciocínio bom, organização, iniciativa, capacidade, disponibilidade, transparência, assertividade. 

2- LIBERDADE – SETOR CULTURAL – NECESSIDADE ESPIRITUAL 

2.1- Disponibilização estudos antroposóficos e da Pedagogia Waldorf através de grupos de estudos, cursos, palestras, encontros etc; 

2.2-Incentivar a busca do autoconhecimento e autodesenvolvimento de todos os membros da escola;

2.3- Promover a integração social através de festas, eventos, saraus, viagens, piqueniques entre as famílias do período da manhã e da tarde. 

As habilidades sociais esperadas de um conselheiro neste setor são: Identificação com os ideais da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf, conhecimento, criatividade, intuição, disponibilidade, transparência, valores, qualificação. 

3- IGUALDADE – SETOR JURÍDICO/POLÍTICO – NECESSIDADE ANÍMICA 

3.1- Comunicação pela paz: Promover fóruns de debates entre as esferas gestoras, entre as famílias, com a comunidade ao redor, divulgando a pedagogia Waldorf e a Antroposofia. 

3.2- Acolhimento: 

-aos pais novos, quando chegarem; 

-às iniciativas dos professores; 

-às iniciativas dos funcionários; 

-às iniciativas pedagógicas dos alunos; 

-a todos os pais engajados, esclarecendo dúvidas, dando orientações e motivação, através de uma ouvidoria sem julgamento; 

3.3-Representar, através de uma coordenadoria eleita por sociocracia: 

-o Conselho de Pais no Tripé; 

-os Pais perante outras esferas. 

3.4- Coordenar: 

-as comissões de trabalho; 

-as eleições de representantes de classe, incentivando a sociocrática realizada em todas as iniciativas antroposóficas. 

3.5- Promover trabalhos sociais com a comunidade. 

As habilidades sociais esperadas de um conselheiro neste setor são: Identificação com os ideais da Antroposofia e da Pedagogia Waldorf, carisma, ponderação, equilíbrio emocional, liderança, respeito, disponibilidade, transparência, humildade. 

Para o cumprimento da missão do Conselho de Pais é desejável que em todos os âmbitos exista a presença das seguintes condutas: 

- Transparência; 

-Saber ouvir/falar; 

-Serenidade; 

-Respeito pelo outro, aceitando as diferenças; 

-Levar para o sono (reflexão); 

-Não ser reativo; 

-Olhar por vários pontos de vista; 

-Decisão por sociocracia.

Ainda é desejável que o conselho se reúna pelo menos uma vez por mês e que, sempre que solicitado, receba os pais para conversas, mediante agendamento prévio de data e horário. Importantíssimo, ainda, que o Conselho trabalhe junto aos Representantes de Classe*.


*O Representante de classe se trata de alguém que propaga as premissas da escola e sua energia fraterna junto à classe, funcionando, dessa forma, como elo entre as famílias da turma, o professor e o Conselho de Pais. Friso a importância da comunicação compassiva voltada a propagar com amor as informações, aproximando diferentes instâncias e ainda fomentando que cada vez mais famílias se engajem no cotidiano da Escola Waldorf.

Importante dizer, ainda, que o representante, bem como o conselheiro, são pessoas que afirmam sua disponibilidade junto à Escola, atuando naquilo em que se sentem contribuintes com compromisso e de acordo com os valores da instituição, que definem o papel de cada instância (Diretoria Mantenedora, Conselho de Pais e Colegiado de Professores).

Finalmente, cabe ressaltar que o cotidiano do Conselho de Pais é tecido por diversas cabeças, mãos e corações, fazendo pulsar de forma intensa e plena de sentido a presença não apenas na Escola, mas em um projeto de vida comum...

8 de mar. de 2014

Aleitamento materno

Eliane e Silberto Azevedo

“A mãe inteira vive no leite materno.” R. Steiner

O aleitamento materno é o significado do mais puro amor, que une dois seres numa única expressão. É a continuação do processo de nutrição, cuidado, proteção e calor que começam no útero e que se completa no seio materno. (Rabboni, 2002).

Ao formar o leite materno a mãe se exterioriza por inteiro no ato da amamentação. Todo o seu mundo interno volta-se para fora, ela doa-se por completo, conferindo-lhe um sentimento global de si mesma, uma autoconsciência singular e única. O ato da amamentação é, então, ao mesmo tempo, uma doação completa de si.

Após o nascimento, ocorrem transformações profundas na forma de existência de uma criança. Durante sua vida embrionária ela é envolta, protegida, aquecida e alimentada dentro do útero materno. Com o nascimento, esta relação intima é quebrada bruscamente e a criança vê-se entregue a si mesma. Ela tem de se adaptar as novas condições de vida do mundo físico. Assim, o leite materno é a ligação entre ele e seu antigo abrigo. (CAMPOS, 1995).

O ato de amamentar constitui, portanto, uma transição importante, efetiva e indispensável da vida intra-uterina para a existência pós-nascimento. O leite materno não representa apenas uma composição perfeita de substâncias nutritivas indispensáveis ao recém nascido, mas carrega consigo também todo o calor materno que passa assim diretamente a criança. (CAMPOS, 1995).

Em uma visão antroposófica, através do ato da amamentação, todo ser materno flui, diretamente ao recém nascido sem que haja entre ele e a mãe nenhuma interferência externa, ou seja, o leite materno não entra em contato com o mundo físico, ele flui diretamente de um organismo vivo para outro. Desta forma este ato permite que a organização vital da mãe, as forças formativas de sua organização para o Eu, fluam de forma bem especial ao novo ser.

Além desta efetiva relação estabelecida entre mãe e filho, a amamentação apresenta como grande benefício a aquisição de resistência contra diversas doenças.
Por outro lado, de acordo com Ferriolli existe uma relação entre a amamentação e deglutição, mastigação, respiração, fala e pensamento que se desenvolvem no ser humano. Um bebê que é amamentado pela mãe desenvolve melhor suas funções orais predispondo-se menos a alterações no vedamento labial (boca aberta) na mastigação (unilateral, ineficiente ou rápida demais), na deglutição (invertida e com interposição de língua) e na fala (distúrbios articulatórios). Assim uma boa oclusão auxilia a elaboração correta das experiências anímicas, assim como a mastigação correta o “bem triturar” das vivências e o equilíbrio na resolução de seus problemas. Além disto, “é possível notar um embotamento do pensamento, dispersão e desatenção pela dificuldade em respirar, acarretando dificuldades de aprendizagem escolar pela pouca concentração”.

De encontro a esta importante relação de mãe e filho através da amamentação também está o Método Mãe Canguru ou Método pele a pele.

Este método foi idealizado na Colômbia com o objetivo de reduzir a mortalidade neonatal naquele país. O fundamento do método é de que colocando o recém nascido contra o peito da mãe, possa promover uma maior estabilidade térmica substituindo assim as incubadoras, permitindo alta precoce, menor taxa de infecção hospitalar e conseqüentemente melhor qualidade da assistência com menor custo para o sistema saúde. No entanto, quando adequadamente analisado esse procedimento não mostrou a melhoria esperada na sobrevida dessas crianças prematuras. Porem há evidências de impacto positivo do Método Mãe Canguru sobre a prática da amamentação e também que este possa reduzir a morbidade infantil. Por outro lado, não existem relatos sobre efeitos deletérios da aplicação do método (Método Mãe Canguru; Venâncio e Almeida, 2004).

Mas a atitude de promover um maior contato precoce entre a mãe e o seu bebê mostrou desenvolver um maior vínculo afetivo e um melhor desenvolvimento da criança.

O “Mãe Canguru” lembra bem a relação de cuidados que as índias têm com seus filhos, seguindo a mesma linha de atuação da medicina antroposófica. Isso se deve, talvez, ao elemento profundamente humano que é resgatado na relação mãe-bebê através dessa prática. O triângulo que ampara o “Mãe Canguru” é “Calor-Amor-Leite Materno” enquanto que a medicina antroposófica desperta para a importância do ambiente harmonioso, do calor da mãe (principalmente o calor espiritual materno) e da nutrição através do leite materno para promover o processo de encarnação de forma mais apropriada e transmitir adequadamente as forças formativas e plasmadoras que permitam um desenvolvimento global do bebê e uma chegada mais suave ao ambiente terrestre. Todos esses princípios são preenchidos pelo “Mãe Canguru” e desta forma, observa-se um ponto de encontro inquestionável entre as práticas antroposóficas e a tradicionais, quando essa última caminha em direção à valorização do Humano.

No Brasil o Método Mãe Canguru foi implantado na rede pública com a visão de um novo paradigma que é o da atenção humanizada à criança, à mãe e à família, respeitando-os nas suas características e individualidades.

Assim ao buscarmos as relações humanas mais naturais e preenchidas de calorosidade estamos indo de encontro à concepção de um mundo mais harmonioso.

“Tudo que é dado ao organismo humano através da alimentação de leite prepara-o para torná-lo uma criatura humana terrestre, coloca-o em união com as relações terrestres. Ele (o leite) torna-o um cidadão terrestre, mas não o impede de se tornar um cidadão de todo sistema solar.” (Steiner, 1913)

Ser mãe é uma benção, ser mãe que amamenta é uma dádiva, ser mãe que acolhe e transmite energia deve ser uma inspiração.

Fontes:
Campos, J. M. A. Mama e leite materno, Ampliação da arte médica. ABMA, ano XV n.2, 1995.
Ferriolli, B. A relação entre amamentação e pensamento. Disponível emhttp://www.alumiar.com/alumiar/index.php?option=com_content&view=article&id=1051:arelacaoentreamamentacaoepensamento&catid=64:medica&Itemid=66 Acesso em 05/05/2009.
Método Mãe Canguru. Disponível em http://www.metodocanguru.org.brAcesso em 05/05/2009.
Rabboni, A. Leite materno, amor e vida. Arte médica, ano III n. 3, Nov/2002.
Steiner, R. Ciclo de palestras em Den Haag. 1913 in Campos, J. M. A. Mama e leite materno, Ampliação da arte médica. ABMA, ano XV n.2, 1995.
Venâncio, S. I.; Almeida, H. Método Mãe Canguru: aplicação no Brasil, evidências científicas e impacto sobre o aleitamento materno. Jornal de Pediatria. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2004.