19 de jun. de 2014

A festa de Corpus Christi ou Corpo de Cristo.

É, das festas religiosas, uma das mais fascinantes e intrigantes. É muito comemorada nas pequenas cidades do interior onde as ruas são entidades para a procissão de Corpus Christi.

Tradicionalmente utilizavam-se nestes enfeites de rua materiais naturais arranjados artisticamente formando figuras geométricas ou quadros religiosos. Entre os materiais destacava-se a flor de São João, um cipó trepadeira de flores cor de laranja que cobre os barrancos e beiras de estradas de quase todo o Centro-Sul do Brasil nesta época do ano. Esta planta pertence à família das Bignoniáceas (família dos ipês roxo e amarelo, que também caracterizam a paisagem desta época) e tem o nome científico de Bignomia ígnea ou Pyrostegia ignea, que lembra bem apropriadamente sua semelhança com o fogo, que também nesta época costuma se alastrar pelas beiras da estrada.

Atualmente, muitas cidades realizam estes enfeites utilizando-se dos mais diversos materiais, desde os naturais como flores e areias coloridas, até serragens coloridas artificialmente. Toda a comunidade do lugar se junta para socialmente executar uma obra de arte popular efêmera. O trabalho é feito na noite e na madrugada do dia de Corpus Christi, fica pronto pelo meio da manhã, é admirado pelas pessoas da cidade e pelos visitantes (hoje turistas) até ás 5 horas da tarde quando acontece a procissão e todo o trabalho é desmanchado em poucas horas.

Na procissão de Corpus Christi, o Santíssimo Sacramento ou o cibário (um recipiente dourado onde se encontra uma hóstia consagrada e do qual irradiam raios solares) que fica sempre dentro do Sacrário no altar da igreja sendo retirado durante a missa no ato da consagração ou transubstanciação, é retirado do altar e sai, não somente do altar mas sai do próprio templo, sendo levado nas mãos de um sacerdote, através das ruas das cidades; ruas estas que são preparadas para recebê-lo com materiais da terra transformados em obra de arte pelo trabalho social humano.

Podemos ter uma compreensão mais abrangente do significado desta festa através da obra de Rudolf Steiner, particularmente em “O Evangelho de João” XIV Conferência (07/07/1909 – Kassel) pág. 248-250.

“No momento da evolução dos nossos tempos, em que a era cristã começa com um novo “I”, acontece algo que é do mais alto significado para toda a evolução da Terra, e também para a evolução cósmica, na medida que a evolução cósmica está ligada à Terra. Sim, foi criado um novo centro com o acontecimento da Gólgota. O Espírito de cristo está desde então ligado à Terra. Ele aproximou-se pouco a pouco, e agora está na Terra desde esse momento. Trata-se portanto de os homens aprenderem a reconhecer que o espírito de cristo se encontra na Terra desde esse momento, que o Espírito se encontra em qualquer produto da Terra. E trata-se de os homens reconhecerem todas as coisas sob o ponto de vista da morte, quando não lhes vem implícito o Espírito de Cristo, mas reconhecerem todas as coisas sob o ponto de vista da vida, quando o Espírito De Cristo lhe é inerente.

Estamos apenas no princípio daquela evolução, que é a evolução cristã. O futuro desta evolução consiste em vermos o corpo de cristo em toda a Terra. Porque Cristo entrou desde esse momento da Terra, e criou um novo ponto central de luz. Ele penetra a Terra, ilumina o mundo e está entretecido para a eternidade na aura terrestre. Por isso, ver hoje a Terra sem o Espírito de Cristo, que lhe está na origem, é ver o apodrecer e o decompor da Terra, o corpo em decomposição. Por todo lado onde se veja apenas matéria, temos a ver com falsidade”.

“Tomai agora qualquer coisa da Terra. Quando a reconhecereis corretamente? Quando disserdes: “Isto é uma parte do corpo de Cristo!”Que podia Cristo dizer àqueles que o queriam reconhecer? Na medida em que partiu o pão feito com trigo da terra, Cristo pôde dizer-lhes:”Isto é meu corpo!”Que podia dizer-lhes quando lhes deu sumo da videira, que vem do sumo das plantas? “Isto é meu sangue!”Porque Ele se tornara a alma da Terra. Pode dizer daquilo que era sólido: “Isto é minha carne”, e do sumo das plantas: “Isto é meu sangue”, tal como vós dizeis da vossa carne: isto é minha carne, e do vosso sangue: isto é o meu sangue. E aqueles homens capazes de compreender o sentido correto destas palavras de Cristo formam imagens do pensamento para si próprios, e atraem o corpo e o sangue de Cristo para o pão e o sumo da videira; eles atraem para estes últimos o Espírito de Cristo. Assim o símbolo da última Ceia tornou-se realidade.”

Compreendendo através do conhecimento antroposófico que a Terra é o próprio corpo de Cristo, então temos o elemento chave para compreendermos todo o significado e o sentido desta época joanina.

Nesta época nos tornamos mais conscientes do clima, ou seja do organismo vivo da Terra, lembramos que a terra os alimenta, lembramos dos que trabalham na terra e por fim lembramos que a Terra é o próprio corpo do Cristo, que começou a se transformar num novo Sol por ocasião do evento da Gólgota.

Esta situação nos leva um pouco mais próximos de compreendermos quando Rudolf Steiner diz no ciclo “O decorrer do ano em quatro imaginações cósmicas” que a imaginação na trindade, é a imaginação joanina propriamente dita: O Filho entre O Espírito-Pai (Cosmos) e a Mãe-Substância (Terra).

Espero ter trazido nesta ocasião uma colaboração para a compreensão e adequada comemoração desta época de João, na forma de subsídios para um trabalho que deve ser continuado.

(PARTE DO RESUMO DA CONFERÊNCIA DADA POR MARILDA MILANESE EM COMEMORAÇÃO A ÉPOCA JOANINA (21/06/95)

(Texto extraído da Revista Nós, Época de São João 2002, da Escola Waldorf Rudolf Steiner, em SP)

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