21 de set. de 2017

O que a vida quer da gente é coragem (Micael)

Andreza Sichieri Mantovanelli Pestana Mota



O correr da vida embrulha tudo.

A vida é assim: esquenta e esfria, 

aperta e daí afrouxa,

sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem
Guimarães Rosa

A escola antroposófica inclui em seu calendário, em seu ritmo anual, 4 festas Cristãs. São elas Advento, Páscoa, São João e Micael. 

Aqui vamos falar de Micael, um arcanjo também conhecido como Miguel. Esta época se inicia com a entrada da primavera, ocasião em que a terra está rica em ferro decorrente das chuvas de meteoros derramadas em nosso hemisfério nos meses anteriores. O ferro está presente também em nosso sangue e representa a força.

A imagem de Micael é de um guerreiro, chefe do exército celestial, aparecendo sempre com uma espada ou armadura.  Por traz dessas imagens sabemos que sua verdadeira "arma" é o bem, imbuído de fé e coragem. A fé aqui deve ser entendida como uma plena confiança  no mundo espiritual como nos ensinou Rudolf Steiner: "tudo o que vier nos será dado por uma direção mundial plena de sabedoria."

Sua missão é combater o mal, representado na imagem pelo dragão. A luta se dá pelo domínio do dragão e não pelo seu extermínio.

Que dragão é esse afinal? Na época atual, que chamamos de Era da
Consciência, a força do dragão é a de desviar o homem de seu caminho, da sua verdade. Esse dragão está em toda a parte, dentro e fora do ser humano. 

Ele representa tudo que leva o homem  a se tornar um ser pequeno, sem vontade própria.

Tudo mais que desqualifica a alma humana como, por exemplo, egoísmo, vaidade, ganância, corrupção, soberba, falta de humildade, hipocrisia, igualmente é representado pelas forças do terrível adversário de Micael.

O dragão quer aprisionar o ser humano no mundo material, afastando-o cada vez mais da sabedoria cósmica, ou seja, sua missão é impedir o crescimento/desenvolvimento espiritual do homem. Já Micael tem sua missão de despertar a consciência humana para tal.




Assim como as demais festas cristãs, a época de Micael nos traz profundas reflexões de como lidar com os dragões que vivem dentro e fora de nós. A proposta é que tenhamos coragem de reconhecer o dragão, identifica-lo e saber como dominá-lo de forma poder transformar o mal em bem.



Educando nossa vontade cresceremos espiritualmente. Eis nossa tarefa.

Nas escolas Waldorf não falamos sobre essa época para as crianças. As crianças pequenas ainda não vivenciaram em si o bem e o mal, portanto, apenas escutam músicas de São Micael e se envolvem pelas cores da época. O exemplo serenidade, coragem e força deve ser trazido pelo educador sempre, não somente nesta data.

Já as crianças maiores vivenciam através de cantinhos de época, músicas, histórias e versos a imagem do guerreiro celestial que com força e coragem domina e demove o dragão.

Assim sendo,  o dia 29 de setembro (Dia de São Micael) nos lembra quem somos. Nos convida mergulhar em nosso interior e buscar lá nas profundezas da alma a capacidade de erradicar o medo e adquirir serenidade em todos os sentimentos e sensações a respeito do futuro. Agir com consciência, nadar contra a maré. Cada um de nós tem seu papel no exército micaélico. Coragem!!

"Isto é parte do que temos de aprender nesta era, a saber: viver em pura confiança. Sem qualquer segurança na existência; confiança na ajuda sempre presente do mundo espiritual.
Em verdade, nada terá valor se a coragem nos faltar.
Disciplinemos nossa vontade e busquemos o despertar interior todas as manhãs e todas as noites".

Rudolf Steiner

29 de ago. de 2017

O impulso Micaélico e as forças adversas (Árimã e Lúcifer)

O reino de Árimã é o da matéria e das leis da matéria. Ele é intrinsecamente oposto à espiritualidade dos mundos superiores, representada pelo Cristo e pelos coros das Hierarquias. Essa espiritualidade não é o raciocínio frio da mentalidade materialista e do pensar abstrato, mas algo essencialmente permeado por um calor que é sinônimo de amor. A inteligência cósmica original continha tanto a luz da sabedoria como o calor do amor! Daí o esforço arimânico  de atrair o homem para a órbita do materialismo e de separá-lo definitivamente de sua origem espiritual, apresentando-lhe o mundo do espírito como inexistente. E esse é o drama do homem moderno, da alma da consciência! 

(...) De um lado, Árimã procura, por todos os meios, prender o homem à matéria e apagar nele a ideia da existência de qualquer realidade espiritual, tanto no homem como no Universo. É o triunfo da ciência mecanicista, de um pensar abstrato, semelhante a um computador. É o utilitarismo em todos os campos, a negação de quaisquer parâmetros e critérios objetivos de ética e de responsabilidade. O mundo - e com ele o homem - é um mecanismo exclusivamente baseado na matéria e suas leis, onde palavras como "espírito", "amor", "responsabilidade moral" ou "liberdade" não tem o menor sentido.

De outro lado, está aquele que espera do homem que este saiba, em liberdade, redescobrir o Espiritual em si próprio e no mundo, e que consiga introduzir na inteligência tornada sua, humana, aquele outro elemento que completa a luz do intelecto, ou seja, o calor do amor. O ser que guarda ansioso que o homem saiba usar sua liberdade para esse fim é Micael. E por trás dele aquela outra entidade da qual Micael é o representante e lugar-tenente, o Cristo.

A longa caminhada através da História, longe do espiritual, a dedicação cada vez maior do homem ao mundo material, era, portanto, fases de transição necessárias. Mas chegou a hora da guinada, e a era da alma da consciência e a nova época micaélica marcam o ponto crítico.

O pensar humano não pode, de maneira alguma, continuar a ser materialista. O que ainda se justificava no século XIX é hoje sintoma de grave aberração. O mundo material precisa ser reespiritualizado, e quem deve fazê-lo é o homem. A percepção física deve ser ampliada até incluir a realidade supra-sensível da qual a Humanidade se separou, e o próprio pensar pode ser transformado em instrumento de uma nova, autêntica percepção dessa realidade.

(...) Cabe, pois, ao homem reespiritualizar a si próprio, sua vida, seus atos e, indiretamente, o mundo.  

(...) De forma indireta, as forças luciféricas também põe perigo a sadia evolução futura. Com efeito, Árimã está a favor de um pensar consciente, mas quer que este se dedique exclusivamente à matéria, ao raciocínio abstrato e à causalidade mecanicista. Em tal reino não pode existir espírito, liberdade ou amor. - Lúcifer não nega a espiritualidade, mas não quer que o homem seja realmente consciente. Ora, não pode haver amor sem consciência. O amor de um ente total ou parcialmente inconsciente não é amor. Por isso misticismo nebuloso, o sentimentalismo na busca do espiritual e os estados de consciência extática ou reduzida não podem conduzir o homem moderno à verdadeira espiritualização ou cristificação de sua existência. Que se apreciem desse ponto de vista os inúmeros movimentos "ocultos" que aparecem nestes dias...

(...) Quando um movimento esotérico ou alternativo não é dominado pelos impulsos de Micael e do Cristo, e quando não visa a uma elevação do homem ao espiritual mediante um trabalho moral e consciente em si mesmo, dentro do contexto social, tal movimento é condenável por estar em flagrante contradição com o verdadeiro impulso de nossa época.

(Trechos extraídos do livro Antroposofia Ciência Espiritual Moderna, de Rudolf Lanz).