Os preparativos foram intensos... Uma semana fora de casa, longe dos filhos pequenos e do trabalho... A expectativa era grande, não somente pelo fato de ser o primeiro Congresso Ibero Americano de Pais Waldorf, mas também e principalmente pelo fato de não saber ao certo o que isso significaria e o que nasceria com este semear.
Éramos um grupo de 30 pessoas (entre pais e avós) vindas do Chile, Peru, Argentina e Brasil. Os objetivos e as metas do congresso foram:
1- Troca de experiências em relação às Escolas Waldorf (pontos positivos, negativos e propostas de soluções);
2- Troca de experiências sobre os diferentes modelos de organização dos pais nas diversas escolas (representantes de classe, conselho de pais, administração);
3- Apresentação de noções básicas de Antroposofia e a importância dela na Pedagogia Waldorf (a Antroposofia é o coração da Escola Waldorf), facilitando o entendimento da proposta pedagógica e conhecimento do currículo da PW, de modo a proporcionar um conhecimento da criança/jovem em seu desenvolvimento para corresponder às suas reais necessidades;
4- Aprofundamento das conferências proferidas por Rudolf Steiner ao invés de quantifica-las.
5- Vivências com os participantes que levaram à evolução da busca do caminho individual em direção ao autoconhecimento (escultor: medo e coragem; teatro de improviso: germinar, gratidão, cuidar; euritmia, música, aquarela);
6- Entendimento do significado de “Ser Pai” na Escola Waldorf, sob o tema “O caminho interior dos Pais”;
7- Apresentação do caminho de fraternidade de Pais Waldorf na Iberoamérica (roda “Gracias a la vida”);
8- Estabelecer uma comunhão entre as comunidades de Pais das Escolas Waldorf do Brasil, de modo a que os presentes passem a atuar (sob coordenação da Dra. Ana Paula Cury e Sandra, da Escola Novalis de Piracicaba) doravante, como representantes das atividades de encaminhamento para os próximos encontros, dentre eles o II Encontro de Pais Waldorf, a ser realizado em 2013, na Escola Viver, em Bauru, SP, o I Congresso Brasil de Pais Waldorf (em conjunto com IV Congresso Brasil de PW), a ser realizado em janeiro de 2014 (em local ainda não definido) e também o II Congresso Ibero Americano de Pais, a ser realizado em Cali, Colômbia, em 2015.
9- Possibilidade de nos tornarmos agentes multiplicadores.
Nas oficinas de aprofundamento com Marina Calache como nas ministradas pela Ana Paula Cury as fortes emoções se manifestaram das mais diversas maneiras. Impossível traduzir aqui o que representou uma semana de congresso para nós. Posso apenas resumir em algumas palavras o que ficou: conhecimento, transformação, paz, amor, gratidão e muito, muito trabalho pela frente.
Dentre as inúmeras coisas que aprendemos uma delas é importante dizer neste momento: somente construindo relações baseadas na confiança e na disposição para a cooperação estaremos aptos a enfrentar com êxito os desafios do mundo atual.
Adoraria transcrever todas as palestras que assistimos, todas as emoções que sentimos e todos os desafios que trouxemos conosco. Impossível agora...
Porém, um resumo bem simplificado da palestra do Osvald Florian faço questão de trazer:
Hoje temos mais de 1000 EW distribuídas em vários continentes.
Os princípios da PW nasceram da Antroposofia.
Contudo, individualmente, a Antroposofia nunca pode vir de fora, necessita vir do interior, como um impulso e, hoje, o professor deve ser o representante deste impulso. Então a pergunta: Como está a relação dos professores com a Antroposofia???
A Antroposofia é o coração da EW (inseparável) e por isso quem escolhe esta pedagogia tem que respeitar seus princípios e se interessar por eles.
É sempre bom lembrar que Steiner fundou a EW como um impulso social e não como uma “ilha cultural”. Precisamos expandir, pensar mais amplamente (vida pública). O trabalho de periferia, no entorno da escola é muito importante. Trabalho com a sociedade é dever da EW.
A partir daqui pergunto: Qual é o papel dos Pais na Escola Waldorf???
Trago abaixo um simples resumo do que nos foi passado sem a minima intenção de que se caracterize um "minicurso" e sim que seja um semear, uma luz no fim do túnel para o compromisso de nós, pais e educadores, com a educação de nossos pequenos.
O CAMINHO INTERIOR DOS PAIS – PALESTRANTE ANA PAULA CURY.
A criança nos escolhe e confia-nos seu segredo. Ela procura aquilo que não podia mais ser buscado no mundo espiritual quando o momento do nascimento se aproximou.
Porém este segredo do qual ela nos faz guardiões não nos é dado como conhecimento no sentido de imagens mentais, mas antes como uma faculdade que se manifesta numa disposição para uma atenção intensa, que é a capacidade de encontrar a atitude adequada, os gestos corretos, a linguagem apropriada, e assim por diante, e encontra-los com a certeza do coração. Nesta atmosfera acolhedora a criança pode formar-se a si própria: ela se reconhece nela. Quando nosso senso de percepção (presença de espírito) está presente para situações em que a educação é praticada como uma arte promovemos o estabelecimento da conexão da criança com seu anjo protetor. As atitudes básicas para aproximarmos deste ideal (educar a criança) são: proteger, acompanhar, confortar, curar.
PROTEGER
Aqui não se trata apenas da proteção óbvia contra perigos exteriores, precisamos proteger o Mistério que nos foi confiado – a nós protetores escolhidos. Este Mistério precisa de proteção, pois seria incapaz de se desenvolver caso fosse exposto às tempestades do mundo. Se encerraria em si mesmo. O Mistério é aquilo que ainda está por vir à tona.
Precisamos estar presentes com uma consciência desprovida de preconceitos. As atividades intencionais, um movimento interventor dirigido a alguém, não realiza nada na esfera do Mistério; antes, afasta, cria distancia. Interrompe o fenômeno relacionamento. Em contraste, o que no mundo objetivo é o exato oposto da ação – isto é, percepção – é na esfera do Mistério a ação apropriada que cria e estabelece relacionamentos. O que importa não é o conteúdo da percepção, mas o próprio poder de percepção, ou seja, a atenção. A criança precisa para a realização de sua individualidade do meu olhar e da minha escuta capazes de reconhecer suas possibilidades. Tudo que ela requer é uma profunda devoção, “reverência pelo instante presente” e tranquilidade (R. Steiner, GA 317). É preciso calar-se internamente e aprender a fazer silêncio. Assim, julgar, tirar conclusões, perseguir intenções aqui estão fora de propósito. A atitude decisiva é interrogar-se: Estou praticando uma redução desta pessoa ao julga-la? Serei capaz de assombrar-me? De admirar-me? Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. Calma interior e percepção possibilitam esta proteção.
ACOMPANHAR
Aqui, igualmente mais que o companheirismo no sentido da vida exterior, o que importa é que paralelamente possamos dar tempo ao Mistério para ele se desenvolver, sem intervenção intencional. Devemos ficar ao lado da criança com uma atitude de quem espera em paz – simplesmente estar ali, presente e pacientemente. Aqui, da mesma forma, a aparente inatividade é a verdadeira atividade criativa. O inimigo aqui é a impaciência. Na esfera do Mistério, acompanhar significa ser capaz de esperar – não de modo entediado, mas de forma participativa.
A LIÇÃO DA BORBOLETA é uma imagem que expressa algo acerca deste verdadeiro acompanhar:
O homem observava há dias o casulo quando percebeu que nele se abria um pequeno orifício. Durante horas a borboleta tentou fazer passar seu corpo pela abertura.
De repente parou, como se não conseguisse ir adiante. O homem resolveu ajuda-la. Com uma tesoura cortou o restante do casulo e a borboleta deixou-o facilmente. Mas seu corpo era pequeno, estava murcho e suas asas amassadas.
O homem esperava as asas se abrir para o primeiro voo. Mas nada aconteceu. A borboleta rastejava, jamais foi capaz de voar.
Ansioso para ajudar o homem não conhecia o processo da metamorfose que permite o voo da borboleta. Pois que é o seu esforço que lhe dá esta capacidade: ao comprimir seu corpo pelo orifício do casulo secreta a substância necessária para esticar as asas e voar.
Como a borboleta, também nós precisamos de tempo e do empenho de nossas forças em nossas vidas. Sem obstáculos as forças necessárias para vencê-los ficariam enfraquecidas. Jamais seriamos capaz de voar.
Conhecer as leis do desenvolvimento, paciência e perseverança possibilitam o acompanhamento necessário.
CONFORTAR
Além da atenção consoladora mais obvia em relação às tristezas, adoecimentos, magoas, etc precisamos encontrar, enquanto o Mistério se desenvolve, os obstáculos e as confusões que ocorrerem de tal forma que possamos amortecer e limitar seus efeitos.
Experiências ameaçadoras da realização da esperança infantil são inevitáveis. Mas nós podemos conforta-la trazendo-a para fora deste estado pela autoridade de que fomos investidos pela própria criança. Com a expressão “chamá-la para fora deste estado” significa dirigir-me a ela como “tu”. Ensinamentos (ou respostas) são de pouca valia nesse contexto. Na esfera do Mistério elas são como repelentes. Em contrapartida há uma consoladora demonstração de confiança na arte de fazer perguntas. – “quem é você?”.
Eu posso ensinar sobre o tempo passado e sobre o mundo acabado, mas sobre o que está por vir. Com respeito ao que está por vir, eu sou aquele que está aprendendo, que está sendo agraciado com presentes, e só estou doando a partir da abundancia que recebi, quando a criança está diante de mim necessitando de conforto e consolação, isto é, necessitando ser lembrada (de quem ela é). Devemos remeter a criança ao reconhecimento ou à lembrança de seu verdadeiro ser.
Possibilitar que a criança encontre seu próprio caminho. Devolver a criança a si mesmo. Lembra-la sempre de quem ela é traz o conforto necessário.
Atenção protetora (escutar), acompanhamento interessado (esperar), e confiança confortada (perguntar) são qualidades que atuam juntas na faculdade educativa da confirmação compreensiva. Elas não podem ser separadas, em realidade, mas observamo-las separadamente para efeito de clareza didática, assim quando observamos uma árvore a cada vez de um ângulo diferente. Tem-se uma imagem diferente de cada ponto de vista, mas sabemos tratar-se de uma única e mesma árvore. Precisamos aprender a ver as conexões anímico-espirituais de diferentes perspectivas tal como se andássemos ao redor de uma árvore no espaço físico. É aí que a espiritualidade começa num sentido mais concreto. A árvore em torno da qual andamos no presente exemplo é o conceito de confirmação compreensiva (ou compreensão criativa). Este conceito caracteriza uma atitude interior que deve fluir em tudo o que fazemos se quisermos dar o salto que transpõe o abismo entre a educação que hoje se pratica (sistematizada, regulamentada) e a educação como uma arte ou como um caminho interior (educação curadora). Sistematização é qualquer influencia de fora, enquanto cura é como dar forma desde o íntimo a um relacionamento baseado na ideia de infância. Contudo, atenção, interesse e confiança apenas desenvolvem sua força curadora se e quando na esfera do Mistério a criança encontra a criança. E assim nós chegamos ao âmago da ideia da infância. O real auxilio ao destino acontece sempre que a criança interior do educador se revela àquele que é criança no corpo.
Eu selo um pacto refazendo o caminho para o meu mistério e tomando a criança sob meus cuidados. Aqui também se trata de uma atividade interior.
Então, por “cura” não entendo a eliminação de um estado doentio, mas antes “a condução em direção ao essencial”, ou seja, “salvação” (segundo Steiner) da doença de nossos tempos. Estou falando da postura da educação curativa. Lugares nos quais o relacionamento educativo é cultivado devem ser permeados de espirito artístico: laboratórios do futuro, sementeiras de esperança humana. Curar abrange proteção, acompanhamento, conforto e muito mais. Curar significa dar esperança e dar esperança significa ter esperança. E se uma pessoa possui ou não esperança é uma questão do pensar. Assim o circulo se fecha: uma educação que faça jus a criança só é possível a partir do pensamento permeado pelo calor da infância.
Se nos percebermos a proximidade do Cristo (a criança da humanidade) na esfera do espirito que faz fronteira imediata com este mundo, o reino angelico, e se nós acolhermos o que Dele emana e formularmos em conceitos de educação artística, um tempo mais caloroso pode começar para as crianças tida como difíceis, e então se disseminar para todas as crianças e então passar daí para toda a avida social.
A utopia de uma nova Cristandade – livre de dogmas, de fome, de poder e hipocrisia – é inicialmente uma tarefa pedagógica. O adjetivo difícil é mais adequadamente aplicado àqueles que não tem disposição nem se sentem inclinados a deixar de insistir no caminho conveniente já trilhado.
Filmes ilustrativos das atitudes básicas na Compreensão Criativa:
1- O contador de histórias (baseado na historia real de Roberto Carlos Ramos)
2- Cinema Paradiso
3- A canção de Bernadete (baseado na historia real de Bernadete Soubirouz)
4- Mãos talentosas
Um exercício para o caminho interior dos Pais: a contribuição do Sono
“Carrego meu pesar ao sol poente,
Coloco minhas preocupações em teu colo resplandecente.
Purificadas em tua luz, transformadas em teu amor,
Que elas me retornem como pensamentos que auxiliem,
Como forças para um agir alegre, disposto ao sacrifício”.
(Rudolf Steiner – verso para a noite)
“Tem paciência com tudo de não resolvido em teu coração e tenta amar as perguntas em ti como se fossem quartos trancados ou livros escritos em idioma estranho. Não pesquises em busca de respostas que não te podem se dadas. Porque tu não as podes viver, e trata-se de viver tudo. Vive as grandes perguntas agora. Talvez, num dia longínquo, sem o perceberes, serás agraciado com a resposta”.
(Rainer Maria Rilke)
Para encontrar respostas por este método é necessário basear-se em um genuíno interesse e envolvimento, precisamos estar realmente movidos por um desejo de compreender a criança. Como regra, nos seremos bem sucedidos em obter o que o sono tem a oferecer somente se tivermos um trabalho preparatório para isto.
Ao assumirmos a responsabilidade pela educação de nossos filhos como um assunto sagrado, estaremos ao mesmo tempo trilhando um caminho de autodesenvolvimento consciente que é o único que pode criar as condições que lhes permitam ser quem eles estão destinados a ser.