17 de jun. de 2015

A Pedagogia Waldorf II

A Pedagogia Waldorf foi idealizada em 1919 por Rudolf Steiner (1861-1925), filósofo e cientista austríaco. Em sua obra, publicada pela Editora Antroposófica, ele fundamenta a educação nos processos orgânico-psíquico-espirituais que caracterizam as fases da evolução da criança. 



A aprendizagem dá-se paulatinamente, respeitando-se rigorosamente as faixas etárias. O processo tem início no conhecimento e amadurecimento corporal, ampliando-se para o domínio do ambiente espacial e representando-se nas capacidades de leitura, escrita e matemática. Cultiva-se, ao longo de todos os anos escolares : 


- O fazer integrado e consciente das várias atividades manuais, do artesanato e do cultivo dos trabalhos primordiais do Ser Humano. - O sentir através da produção e apreciação das artes plásticas, musicais e cênicas.
- O pensar, cultivado desde a imaginação dos contos de fadas até o rigoroso processo abstrato-científico próprio do ensino médio.

Uma das principais características da Pedagogia Waldorf é o seu embasamento na concepção de desenvolvimento do ser humano introduzida por Rudolf Steiner. Essa concepção leva em conta as diferentes características das crianças e adolescentes segundo sua idade aproximada. O ensino é dado de acordo com essas características: um mesmo assunto nunca é dado da mesma maneira em idades diferentes.

Ela é uma pedagogia holística em um dos mais amplos sentidos que se pode dar a essa palavra quando aplicada ao ser humano e à sua educação. De fato, ele é encarado do ponto de vista físico, anímico e espiritual, e o desabrochar progressivo desses três constituintes de sua organização é abordado diretamente na pedagogia. Assim, por exemplo, cultiva-se o querer (agir) através da atividade corpórea dos alunos em praticamente quase todas as aulas; o sentir é incentivado por meio de abordagem artística constante em todas as matérias, além de atividades artísticas e artesanais, específicas para cada idade; o pensar vai sendo cultivado paulatinamente desde a imaginação dos contos, lendas e mitos no início da escolaridade, até o pensar abstrato rigorosamente científico no ensino médio. O fato de não se exigir ou cultivar um pensar abstrato, intelectual muito cedo é uma das características marcantes da pedagogia Waldorf em relação a outros métodos de ensino. Assim, não é recomendado que as crianças aprendam a ler antes de entrar na 1ª série. Sobre a necessidade do brincar infantil no jardim-de-infancia, veja-se o artigo "Crisis in the Kindergarten: why Children Need to Play in School" editado pela Alliance for Childhood.  Como o computador força um pensamento lógico-simbólico, nenhuma escola Waldorf digna desse nome utiliza essa máquina, sob qualquer forma, antes do ensino médio (9ª série na seriação Waldorf); ver artigos a respeito.

Estudar em uma escola Waldorf é ter uma grande oportunidade de vasta cultura, com capacidade de concentração e aprendizado, e alta criatividade.

É o movimento independente que mais cresce no mundo.

1 de jun. de 2015

A primeira infância e a vida adulta

Por Andreza Sichieri Mantovanelli Pestana Mota

O que é a infância e o que ela representa na vida de um ser humano?


Chamaremos aqui de primeira infância o período de zero a sete anos, ou seja, o primeiro setênio de vida.

Um bebê nasce do útero materno, um lugar protegido, onde recebia calor, limite, alimento. Nasce e começa a espichar. Os três primeiros meses são os meses mais frágeis da vida e os três primeiros anos, os anos mais importantes.

Apesar de nascer completo, o ser humano leva um determinado tempo para desenvolver seus órgãos, para amadurecer o seu corpo físico.

A primeira infância é a fase em que o corpo humano mais cresce durante toda a vida. É maravilhoso poder acompanhar esse desenvolvimento.

Logo que nasce, fixa os olhos, firma a cabeça e o pescoço. Depois firma o tronco e conquista o sentar. Finalmente, os membros ganham força. A criança se liberta e começa a explorar o mundo. Na primeira infância aprende a se movimentar no espaço. Descobre seu corpo e seu entorno.

Tem os órgãos dos sentidos bem desenvolvidos. O mundo entra para ela. É totalmente aberta, uma esponja. Não existe separação entre ela e o meio. A criança pequena se sente parte do todo. Confia e se entrega ao adulto. Deve sentir que o mundo é bom.

A criança vive intensamente o dia e a noite, as estações do ano. Assim, o ritmo é super importante. Ter hora para comer, hora para dormir, por exemplo, é salutar. Uma criança que tem ritmo em sua vida vive melhor, pois reconhece, de forma inconsciente, a segurança e o bem estar. Os limites igualmente são importantes. Através do toque, do contato, do colo, do calor a criança sente a ligação, a proteção.

Em relação ao aprendizado, a criança pequena aprende por imitação, observando o adulto, as pessoas em sua volta. Imita os trejeitos, a forma de falar, de andar e até mesmo de se sentar à mesa e comer.

Tudo que o adulto faz a criança imita. Bons exemplos, portanto, são fundamentais. A forma como fala com as pessoas, como trabalha com as mãos, o tom de voz, tudo isso será imitado.

Um exemplo maravilhoso é a tentativa de levantar e andar. Este é um processo que nasce da imitação. A criança quer ficar em pé e andar como os adultos que a rodeiam. Levanta, cai, bate a cabeça, às vezes até se machuca, mas não desiste, tenta de novo, incansavelmente, até conseguir. Diferente é se a criança coloca a mãozinha no forno quente e se queima. Dificilmente fará novamente.

Essa força de vontade, tão maravilhosa e orgânica da criança pequena, deve ser cultivada e protegida, pois lá na frente, na fase adulta, vai ser determinante em seu atuar no mundo.

Uma forma de proteção é deixar a criança brincar livremente na primeira infância. Criar um ambiente onde ela possa se movimentar, onde possa explorar os elementos da natureza com segurança, usar da fantasia. O egoísmo nessa fase é sadio. Ela está nela, presta atenção apenas nela.

O ritmo, o limite e o brincar associados a uma boa alimentação, rica em frutas, legumes, grãos etc. são a receita para o bom desenvolvimento.

A aquarela, o giz de cera (sempre usando folhas grandes), os bonecos de pano, brinquedos de madeira são ferramentas maravilhosas para um jardim da infância. Contudo, o que a criança pequena precisa mesmo é de proteção. Proteção ao seu direito de brincar. A criança vive a fantasia, não precisa de brinquedo nenhum. Ela se encanta e se vira com sementes, toquinhos de madeira, pedrinhas, folhas, caixas... A fantasia modifica.

A criança precisa da proteção ao seu direito de se movimentar. Somos seres do movimento. A criança pequena não pode e não deve permanecer sentada por muito tempo. Ela deve rolar, rastejar, engatinhar, andar e correr livremente.

O contato com a natureza é muito importante. Traz a religação.

Manter uma criança pequena sentada, fechada em uma sala, recebendo conteúdos, informações, interferências de fora, faz com que sua energia vital (aquela que deveria estar sendo utilizada para desenvolver internamente seus órgãos) seja desviada de sua função. É obvio que a criança pequena aprende. Sabemos que é possível, inclusive, alfabetizar (letramento) crianças com menos de três anos de idade. Sabemos, igualmente, que bebês já dominam joguinhos em iPads, tablets e celulares.

Contudo, o desvio da energia vital para o intelecto, faz com que os órgãos continuem a se desenvolver com um grande esforço (fadiga) e nem sempre alcançam o desenvolvimento de suas funções.

Educar na primeira infância é possibilitar um ambiente saudável para a criança se desenvolver. Essa é nossa missão enquanto educadores.

A infância (0-7anos) é uma fase curta na vida do homem. Se pensarmos em um adulto que vive aproximadamente 70 anos, em apenas 10% de sua existência ele foi criança. Contudo, o ser humano carrega por toda sua vida as marcas de sua infância. Também o que acontece neste período sobe à consciência depois, através do relacionamento com o outro.

Tudo o que um homem vive na infância tem a ver com o que ele se torna na vida adulta.

Proteger a infância é proteger o futuro.