20 de dez. de 2016

A Antiguidade e a Modernidade da Árvore de Natal



A Antiguidade e a Modernidade da Árvore de Natal (Antroposofia)




"De onde vem a ideia de enfeitar o pinheiro com luzes e esferas vermelhas?

Como era uma árvore de Natal antigamente? 

O resgate do significado das tradições é algo fundamental, uma vez que um sentido maior pode ser revivido a cada ano; uma renovação rítmica a cada solstício de inverno no hemisfério norte é comemorada desde os tempos pré-cristãos. 

O solstício de inverno significa o dia do ano com maior tempo de escuridão e menor tempo de luz, ou seja, dia 23 de dezembro, e desde tempos antigos esse dia foi consagrado como um dia especial, quando a luz interior, uma luz especial deveria ser acesa no interior do ser humano, no dia de menor luz exterior. 

Segundo o filósofo Rudolf Steiner (1861- 1925), a árvore de Natal corresponde a uma fusão de duas árvores, ou melhor, de duas famílias botânicas: uma conífera, especialmente o pinheiro, e uma rosácea, especialmente a macieira e a roseira. 

As coníferas correspondem às árvores mais antigas de nosso planeta. Ainda antes dos dinossauros, no período geológico carbonífero, existiam essas árvores de sementes nuas (as pinhas), literalmente gimnospermas, representando até hoje as árvores de maior longevidade. Exemplos impressionantes são a sequóia californiana, de 3.212 anos, e o Pinus aristata, de 4.600 anos. 

Essas árvores significam vida, representam a ÁRVORE DA VIDA. 

As rosáceas, bem mais recentes, já no período terciário dos mamíferos gigantes, correspondem às angiospermas modernas. Essa família se caracteriza, por um lado, pela sua enorme dureza e formação de acúleos e espinhos; por outro, pela sua intensa formação nas estrelas, além de ser também um pentagrama. 

A maçã, cujo receptáculo da flor tornou carnuda e perfumada, mantendo consistência firme, na Antiguidade assumiu a representação da esfera terrestre, generosa, altruísta, para alimentar outras formas de vida. 

A macieira representou tanto o desenvolvimento humano que seu nome em latim é Mali, a ÁRVORE DO CONHECIMENTO DO BEM E DO MAL. 

Integrar a ÁRVORE DA VIDA com a ÁRVORE DO CONHECIMENTO – eis o significado da ÁRVORE DE NATAL. 

No início da era cristã, a árvore de Natal recebeu sua orientação final, uma vez que hoje ela parece desorientada nos shopping centers das grandes cidades. 

A receita tradicional para montar uma árvore de Natal é: um pinheiro (ou parte dele), 33 maçãs, 33 rosas (30 vermelhas e 3 brancas), 33 velas com seus suportes e os símbolos dos planetas. Idealmente, ela é enfeitada na véspera, coberta com um véu. Na noite de Natal, o véu é retirado, as 33 velas são acesas na luz apagada e se comemora o Natal à luz de velas. 

Um ambiente maravilhoso se cria ao redor dessa árvore cheia de significados. Os 33 frutos das rosáceas e as 33 velas representam os 33 anos de vida de Jesus Cristo, sendo que as três rosas brancas, colocadas no alto da árvore, correspondem aos três últimos anos após o batismo, anos de intenso desenvolvimento humano. Os planetas significam a ponte entre a Terra e o Cosmo. 

A modernidade da árvore de Natal se esconde em seu maior significado, ou seja, a busca da integração de um estilo de vida que una a VIDA (alimentação, atividade física, vida social, lazer) com o CONHECIMENTO (vida estudantil, vida profissional, responsabilidades) num ritmo que integre o profano e o sagrado a cada dia". 

FELIZ NATAL!!! 

Autoria: *Ricardo Ghelman 

*Médico Antroposófico e de Família

12 de jun. de 2016

Época de São João na Flor de Lótus

Por Andreza Sichieri Mantovanelli Pestana Mota




Ontem realizamos a primeira oficina da lanterna na Flor de Lótus. Foi uma manhã muito agradável, cheia de realizações.

Iniciamos o dia com uma roda, onde falamos do sentido da comemoração de São João em nossa escola. Partindo das palavras de João Batista, "Eu devo diminuir, Ele deve crescer", passamos ao símbolo da fogueira, onde a madeira diminui seu tamanho para que o fogo possa ascender. A madeira (lenha) representa o físico, a matéria, o homem encarnado; já o fogo representa o que há de mais nobre no ser humano, o Eu, a centelha divina. Fizemos uma roda e cantamos com os pais algumas canções. Depois, seguimos para a confecção das lanternas.

A época de São João nos convida a uma interiorização, uma reflexão sobre nossas atitudes cotidianas. Sendo o fogo um elemento transformador, como podemos transformar o meio e manter acesa a chama da esperança?

Rudolf Steiner sugere formarmos "seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar propósito e direção para suas vidas.” Eis o que o mundo precisa: de mais seres humanos seguros e conscientes de si para atuar de forma transformadora.

Outro não é o papel de nossa escola senão a proteção da infância. As crianças brincam a fim de que seu potencial inato de imaginação possa se transformar na criatividade adulta. Mantê-las em contato com o que é natural, orgânico, conectá-las com a terra e com a natureza, alimentá-las com comidas saudáveis, são estas nossas principais ferramentas.

Carregando em nossos corações o pensamento que "toda a educação é auto-educação e que os nossos professores e educadores são, no fundo, apenas o ambiente da criança que possibilita a sua auto-educação", saímos deste encontro com a missão de fazer nosso fogo ascender cada dia mais, cultivando em nós o calor e toda a luz que a época de São João nos remete.

1 de jun. de 2016

Caráter espiritual da Época de São João

Eliane Azevedo


“É inverno, está tão escuro e frio…

Nunca uma noite tão longa se viu…

Tudo se cala, a porta se cerra…

Ninguém mais fala do que a noite

encerra…

As flores murcham
Aves migram
E tudo dorme à face da Terra…”


Estamos entrando no inverno… o clima é frio, a noite chega mais cedo e se torna mais longa, temos vontade de voltar logo para casa e ficar bem quentinhos. Tudo favorece ao recolhimento, a interiorização, uma busca para dentro de nós mesmos.

A natureza também se recolhe e guarda suas forças no íntimo da terra para desabrochar novamente na primavera. Todas as sementes no inverno esperam na terra a luz solar, para brotarem com força depois do recolhimento. Assim, na época Romana a Terra vivia um grande recolhimento, um momento de secura de vida a espera pela luz de Cristo, que seria anunciada por São João. Pois a Terra naquela época vivia um grande inverno.

Nesse ambiente introspectivo e com os corações aquecidos, começamos a nos envolver com caráter espiritual da Época de São João.

João Batista nasceu no dia 24 de junho. Filho de Zacarias e Isabel, desde criança foi preparado para a vida sacerdotal. Sua vida foi dedicada a oração e penitência e sua missão foi anunciar a vinda de Cristo. João falava às pessoas da importância de se prepararem para a chegada do filho de Deus.

Todos que buscavam o arrependimento e a conversão eram batizados nas águas do rio Jordão por João Batista. A convicção de sua missão levava muitas pessoas a confundi-lo com o próprio messias, mas ele, dizia imediatamente: “Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante dele.” (Jo 3, 28) e “não sou digno de desatar a correia de suas sandálias.” (Jo 1, 27)

Jesus também veio para ser batizado por João. “No momento em que Jesus saía da água, João viu os céus abertos e descer o espírito em forma de pomba sobre ele;” (Mc 1, 10). “E ouviu-se uma voz dos céus, que dizia: Tu és meu Filho amado; em ti ponho minha afeição.” (Mc 1, 11)

João veio ao mundo para preparar o coração dos homens para o advento do Cristo. Ele representava uma era que estava terminando, que não poderia mais existir a partir do momento em que Jesus se tornou Cristo. Quando pregava o arrependimento, ele queria mostrar que o ser humano precisava buscar uma nova consciência para poder viver uma nova era – a possibilidade individual de cada ser humano encontrar conscientemente o caminho da espiritualidade.

João sabia que sua missão, bem como a Era que representava, havia terminado quando disse aos seus discípulos: “importa que ele cresça e eu diminua.” (Jo 3, 30)

Assim, na festa de São João a simbologia da fogueira nos remete a lenha que se consome, ou seja, que diminui para que as labaredas cresçam. Aproveitar para fortalecer o fogo divino e transformador que temos dentro de nós deve ser então a verdadeira motivação para a época de São João.

Fontes:
Anna Maria Macrander Karassawa. Simbolismo da Festa Junina.
Boletim nº 19 junho/ 2008. Escola Turmalina – Pedagogia Waldorf

23 de mai. de 2016

A festa da Lanterna




A Festa da Lanterna é uma festa de origem européia. Lá, é comemorada no dia 11 de Novembro, dia de São Martinho. Foi introduzida no Brasil pela primeira Escola Waldorf de São Paulo, para o Jardim da Infância, na época de São João.


No hemisfério Sul, em Junho, estamos entrando no Inverno. Portanto, podemos dizer que essa é uma festa que prepara para a chegada do inverno, época que percebemos uma grande inspiração da terra, uma aquietação da natureza. O clima fica mais frio, a noite chega mais cedo, tudo favorece uma atitude de recolhimento e interiorização, de uma busca para dentro de nós mesmos, da luz que vive no nosso interior.


Em toda chegada de uma nova estação, buscamos direcionar novas atividades e assumir uma postura coerente com as qualidades que a época inspira. Imbuídos de sentimentos verdadeiros tornamos quase que tradutores dessas qualidades que a natureza emana.


Quanto menores as crianças, mais sutis serão nossos gestos, mais plenos de imagens serão os conteúdos trabalhados no dia a dia. O professor de Educação Infantil pode ser um grande poeta que utiliza intensamente as figuras de linguagem a favor das crianças, metaforizando aquilo que os pequenos só podem apreender (e aprender) pelas imagens.


Precisamos cuidar para que a cada época, a cada celebração possamos despertar aquilo que já está impregnado na alma humana e precisa, aos poucos, ser “acordado”.


Esse despertar é um processo natural da criança resultando num desenvolvimento individual, à medida que, repetidamente, povoamos de imagens seus corações. A celebração das festas anuais são ótimos recursos de que nos valemos para possibilitar aos pequenos essas vivências que lhes alimentam a alma proporcionando sentimentos de alegria, amor, coragem, confiança e segurança diante do mundo.


A festa é preparada por integrantes da escola, inclusive pais e amigos. As crianças presenciam e participam com muito entusiasmo a alegria da confecção das lanternas, aprender músicas e escutam pequenas estórias e poesias relacionadas ao tema.


Os professores contem e podem até presentear as crianças com um lindo teatro da história “A menina da Lanterna”, cujas imagens mostram o caminho individual do homem em busca de luz interior. Os personagens do texto nos revelam âmbitos do ser humano que necessitem ser dominados, transformados e renovados. Lembremos que o fogo, desde os tempos mais remotos, é o elemento da natureza mais usado por todos os povos para simbolizar a transformação.


Durante a festa as crianças carregam suas lanternas passeando pelas áreas abertas da escola simbolizando essa luz interior: o fogo divino e transformador que todo o ser humano tem dentro de si, Trilhar esse caminho é uma prova de coragem, e a lanterna acessa é um estímulo que pode ajudar os pequeninos. Caminhando juntos, todos cantam canções folclóricas que nos falam sobre o homem, sobre a natureza, sobre o céu e a Terra e suas relações.


É dever tarefa dos adultos, pais e professores, vivenciar a Festa da Lanterna com plena consciência trazendo as crianças, com veneração, os sentimentos belos, bons e verdadeiros pertinentes a essa época do ano.

Fonte: www.alecrimdourado.com.br.


Texto escrito por Sônia Maria Ruella (revisitado e adaptado por Maria de Fátima Cardoso)

7 de mar. de 2016

A festa da Páscoa na visão da antroposofia



A Páscoa é uma festa repleta de imagens fortes e marcantes. No hemisfério sul, ela ocorre no outono, no primeiro domingo após a primeira lua cheia. A Páscoa é sempre comemorada no domingo, mostrando uma relação com o Sol, astro que rege esse dia da semana, mas também tem relação com a Lua cheia, lembrando que a lua não tem luz própria, apenas reflete a luz do sol.

Antigamente, porém, ela acontecia apenas no hemisfério norte, na época da primavera, quando as pessoas ainda tinham grande relação com as forças da natureza. Naquela época, sobreviver ao rigor do inverno era um grande desafio, e chegar à primavera era motivo de grande celebração. Era nesta época do ano que a vida recomeçava, as cores retornavam, tudo desabrochava. Era a vitória da vida sobre a morte.

A palavra Páscoa, vem do hebraico, PESSACH, que significa passagem. Quando Moisés desafiou o faraó e conduziu seu povo rumo à Terra Prometida libertando-os da escravidão. Neste fato histórico, mais uma vez ocorreu a vitória da vida sobre a morte.

Na tradição cristã, a Páscoa novamente ocupa uma importância fundamental. Após os quarenta dias da quaresma e depois de refletir sobre os acontecimentos vivenciados por Jesus Cristo durante a Semana Santa (domingo de ramos, condenação da figueira, encontro com adversários no templo, unção, santa ceia e lava pés, morte, descida ao reino dos mortos e ressurreição), os cristãos comemoram, no domingo de Páscoa, a glória da ressurreição de Cristo.

Com sua paixão, morte e ressurreição, Cristo deixou-nos o precioso legado de uma nova vida após a morte, e quando seu corpo e sangue penetraram nas profundezas da terra ela se torna um centro de luz, vivificada pelo Eu do Cristo. Diante desta consciência, podemos refletir sobre nossas atitudes perante esta Terra, nosso planeta, tão sagrado.

Outra imagem, que claramente mostra à idéia de vida, morte e ressurreição é a metamorfose da lagarta em borboleta, representando a morte do corpo, a transformação e o renascer. A imagem arquetípica da borboleta que, quando lagarta, fecha-se num escuro casulo deixando a luz e o calor transformarem sua existência em cor e leveza.

O coelho e os ovos também possuem um significado especial nas comemorações pascais. O ovo representa uma vida interior, ainda em estado germinal, que se desenvolve, rompe uma casca dura e em seguida desabrocha em sua plenitude, assim como Cristo ressuscitado saiu de sua tumba. O coelho, por sua vez, representa um animal puro, digno de carregar e trazer os ovos da Páscoa. Além disso, é um animal muito fértil, que se reproduz com facilidade.

Atualmente, porém, a Páscoa, assim como as outras festas anuais, não é encarada sob um ponto de vista espiritual. Na maioria das vezes, não vivenciamos a possibilidade de deixar morrer em nós o que não queremos mais, o que já não nos serve, e também não permitimos que o novo em nós possa florescer. Deveríamos ter claro dentro de nós a possibilidade da vida, morte e ressurreição de hábitos, atitudes e modos de pensar, para tornarmos pessoas melhores, menos endurecidos e insensíveis diante da realidade atual, com seus constantes altos e baixos. Se tivermos consciência da necessidade de cada um realizar este exercício interior, poderemos então resgatar o real sentido da Páscoa.

Fontes:

Anna Maria Macrander Karassawa. A Páscoa no contexto Waldorf. Disponível em http://www.alecrimdourado.com.br/texto2.htmlacessado em 05-04-09.

Edna Andrade. Época da Páscoa – síntese. Disponível emhttp://www.jardimdasamoras.com.br/semanasanta.htm acessado em 05-04-09.

Helena Maria de Jesus. O significado da Páscoa. Disponível emhttp://www.alecrimdourado.com.br/pascoa.html acessado em 05-04-09.

Rudolf Steiner. O Evangelho de São João. Editora Antroposófica, 2007.