O reino de Árimã é o da matéria e das leis da matéria. Ele é intrinsecamente oposto à espiritualidade dos mundos superiores, representada pelo Cristo e pelos coros das Hierarquias. Essa espiritualidade não é o raciocínio frio da mentalidade materialista e do pensar abstrato, mas algo essencialmente permeado por um calor que é sinônimo de amor. A inteligência cósmica original continha tanto a luz da sabedoria como o calor do amor! Daí o esforço arimânico de atrair o homem para a órbita do materialismo e de separá-lo definitivamente de sua origem espiritual, apresentando-lhe o mundo do espírito como inexistente. E esse é o drama do homem moderno, da alma da consciência!
(...) De um lado, Árimã procura, por todos os meios, prender o homem à matéria e apagar nele a ideia da existência de qualquer realidade espiritual, tanto no homem como no Universo. É o triunfo da ciência mecanicista, de um pensar abstrato, semelhante a um computador. É o utilitarismo em todos os campos, a negação de quaisquer parâmetros e critérios objetivos de ética e de responsabilidade. O mundo - e com ele o homem - é um mecanismo exclusivamente baseado na matéria e suas leis, onde palavras como "espírito", "amor", "responsabilidade moral" ou "liberdade" não tem o menor sentido.
De outro lado, está aquele que espera do homem que este saiba, em liberdade, redescobrir o Espiritual em si próprio e no mundo, e que consiga introduzir na inteligência tornada sua, humana, aquele outro elemento que completa a luz do intelecto, ou seja, o calor do amor. O ser que guarda ansioso que o homem saiba usar sua liberdade para esse fim é Micael. E por trás dele aquela outra entidade da qual Micael é o representante e lugar-tenente, o Cristo.
A longa caminhada através da História, longe do espiritual, a dedicação cada vez maior do homem ao mundo material, era, portanto, fases de transição necessárias. Mas chegou a hora da guinada, e a era da alma da consciência e a nova época micaélica marcam o ponto crítico.
O pensar humano não pode, de maneira alguma, continuar a ser materialista. O que ainda se justificava no século XIX é hoje sintoma de grave aberração. O mundo material precisa ser reespiritualizado, e quem deve fazê-lo é o homem. A percepção física deve ser ampliada até incluir a realidade supra-sensível da qual a Humanidade se separou, e o próprio pensar pode ser transformado em instrumento de uma nova, autêntica percepção dessa realidade.
(...) Cabe, pois, ao homem reespiritualizar a si próprio, sua vida, seus atos e, indiretamente, o mundo.
(...) De forma indireta, as forças luciféricas também põe perigo a sadia evolução futura. Com efeito, Árimã está a favor de um pensar consciente, mas quer que este se dedique exclusivamente à matéria, ao raciocínio abstrato e à causalidade mecanicista. Em tal reino não pode existir espírito, liberdade ou amor. - Lúcifer não nega a espiritualidade, mas não quer que o homem seja realmente consciente. Ora, não pode haver amor sem consciência. O amor de um ente total ou parcialmente inconsciente não é amor. Por isso misticismo nebuloso, o sentimentalismo na busca do espiritual e os estados de consciência extática ou reduzida não podem conduzir o homem moderno à verdadeira espiritualização ou cristificação de sua existência. Que se apreciem desse ponto de vista os inúmeros movimentos "ocultos" que aparecem nestes dias...
(...) Quando um movimento esotérico ou alternativo não é dominado pelos impulsos de Micael e do Cristo, e quando não visa a uma elevação do homem ao espiritual mediante um trabalho moral e consciente em si mesmo, dentro do contexto social, tal movimento é condenável por estar em flagrante contradição com o verdadeiro impulso de nossa época.
(Trechos extraídos do livro Antroposofia Ciência Espiritual Moderna, de Rudolf Lanz).