Escrito por Dr. Paulo Neves Júnior
Poderia um médico opinar sobre pedagogia?
Minhas filhas estudam em uma escola de Pedagogia Waldorf: a Escola João Guimarães Rosa. Ribeirão Preto tem a oportunidade de ter a pedagogia mais indicada para ser oferecida às crianças, e por isso ofereço minha visão a respeito.
A perspectiva do que é o ser humano do ponto de vista da Antroposofia pode ser retirada dos textos do Antroposofiando. Quem quiser acessar os artigos é só clicar no site doPeregrino, no setor de Antroposofia. Quem quiser ir atrás de mais literatura, veja os sítios na internet da Editora Antroposófica (www.antroposofica.com.br) e João de Barro (www.editorajoaodebarro.com.br).
No início de minha vida profissional demorei a compreender o que Rudolf Steiner propunha ao dizer que uma pedagogia exercida de forma correta teria um caráter de medicina preventiva. O que uma coisa tinha a ver com a outra? Eu me perguntava. Hoje entendo perfeitamente o que ele dizia. Uma pedagogia antroposófica propõe o ensino de acordo com a fenomenologia do desenvolvimento das crianças. Steiner lançou as bases dessa concepção pedagógica e quando a vejo sendo praticada dou-lhe plena razão. A Pedagogia Waldorf é mais do que levar uma proposta de saúde às crianças. Baseado na minha observação assim eu aponto:
- observo a professora cumprimentar individualmente a criança ao entrar na sala de aula: a criança aprende a ser saudada, a ser considerada e já recebe, portanto um primeiro contato no dia. As crianças fazem fila para isso e aguardam pacientemente a sua vez. Recebem um gesto de atenção individual, consideração, e aprendem a ter paciência, captam um exemplo de educação;
- as salas de aula têm número pequeno de crianças. Significa que o professor tem mais condição estrutural de conduzir o grupo e naturalmente há mais disponibilidade para atender as demandas individuais;
- as crianças pequenas não são avaliadas pelas formas das clássicas provas: não são levadas a uma situação de estresse tão habitual em nosso meio. Não são instadas a produzir sob essa forma de pressão. E não deixam de aprender por isso! E não formam adultos que só produzem sob pressão...;
- a metodologia Waldorf se utiliza do recurso da fantasia para o aprendizado. Os instrumentos da arte permeiam todo o ensino, o caráter e a identidade do método. Isso estimula a criatividade além de evitar que sejam incutidos quaisquer conhecimentos de caráter unilateralmente abstrato. Resulta que as crianças aprendem a correlacionar o conhecimento com o real fenômeno das coisas. Isso evita um ensino baseado unicamente na memória, em que o que é passado para ser aprendido não faz sentido. Seja na conexão dos conhecimentos, seja no porquê daquilo. Como reminiscência, lembro do quanto me perguntava enquanto garoto do que me serviria aquilo que era obrigado a aprender, além de que a escola era uma chatice só...;
- para tal, entre outras ações, também a escola põe no currículo, viagens anuais relacionadas ao conteúdo de cada ano. Uma oportunidade de aspirar e vivenciar um conteúdo vivo, palpável, real (num mundo repleto de estímulos virtuais = não verdadeiro);
- Minha filha mais velha usou de uma tarde inteira para me confeccionar um presente de aniversário. Ninguém a estimulou para isso. Ela tomou sua decisão, bolou o “projeto” e realizou a obra por completo. Afora minha satisfação por esse carinhoso presente, ela demonstrou iniciativa, criatividade e capacidade de execução. Eu sei que isso provém da Pedagogia Waldorf, que é baseada em estimular as crianças a criarem soluções que partam de si mesmas. Por isso tenho dialogado com ex-alunos de escolas de ensino Waldorf e tenho colhido relatos do quanto eles tendem a buscar soluções por livre iniciativa. As crianças são conduzidas a buscarem alternativas de resoluções por si mesmas, então é o ensino de aprender a aprender. E não o de repetir padrões ou usar de métodos bolados por outros. Que é a camisa de força tão comum em nossa sociedade. Caso das provas, não é? Onde se recebe maiores notas, por quanto mais se consegue apenas repetir com maior fidelidade aquilo que foi introjetado. É o equívoco de valorizar as pessoas multiplicarem padrões, o que enfraquece o afloramento das riquezas das diversidades e heterogeneidades individuais;
- quem for a Escola João Guimarães Rosa não pode deixar de olhar para o espaço e a arquitetura. O ambiente foi idealizado em compatibilidade com a sua forma de ensinar. Há uma forma orgânica, com movimento que “diz” algo de positivo aos seres humanos ali presentes. A arquitetura se nutre da mesma visão da pedagogia, buscando um todo harmônico;
- durante o percurso escolar das crianças ao longo dos anos, os pais são estimulados a participarem de diversas ações relacionadas aos seus próprios filhos e à comunidade escolar em geral. Enquanto nas escolas convencionais os pais pagam para não terem responsabilidades, nas escolas Waldorf, eles pagam para serem participativos. A estrutura de gestão praticada leva os pais a serem co-responsáveis por todas as atividades escolares. As festas são realizadas pelos professores, funcionários e pais. As alegrias, as satisfações, o engajamentos dos pais com a finalidade pedagógica leva às crianças exemplos de um acompanhamento conjunto e cuidadoso;
- o que sempre foi praticado, e que era um exemplo, virou lei no terreno pedagógico convencional: as crianças especiais são colocadas junto às crianças sem distúrbios, desde pequenas. O que isso leva? Uma natural observação de um ser em crescimento a ver que outras pessoas têm em si uma inerente dificuldade. Já de cedo se oferece a oportunidade de aprender a lidar com as diferenças, de ter tolerância, de lidar com posturas e ações colaborativas. E no decorrer do tempo, fica muito claro, o quanto as crianças que necessitam de cuidados especiais também são beneficiadas por esse processo;
- a música faz parte da rotina escolar, reforçando a premissa da arte. Suas manifestações elaboradas e adquiridas por cada classe são demonstradas para o público escolar nas chamadas festas semestrais. Ali se pode apreender um pouco do que é praticado dentro das salas de aula. Para mim que não fui aluno de um aprendizado Waldorf, essas festas são momentos tocantes por toda a beleza em sentido mais amplo, aí configurado. Percebo que para o grupo fazer uma apresentação musical, as crianças precisam prestar atenção às outras e sincronicamente saí o resultado de um trabalho de grupo, um exercício de coletividade, onde o amálgama musical junta as diferenças de cada um para formar uma conjunção harmoniosa, com muito treinamento e esforço implícito ali. Enfim, a música entre outros bens espirituais que nos traz, estimula a criança a ser disciplinada;
- as atividades escolares são elaboradas para oferecer uma evolução cognitiva, de acordo com o patamar de desenvolvimento neurobiológico das crianças. Esse bem de imenso valor sugerido por Steiner molda a forma de atuação dos professores: os ensinamentos somente são dados a partir do momento em que o ser humano, naquela fase de crescimento infantil, apresenta-se pronto para acolher o aprendizado. Então nada é levado a uma precocidade tão em voga atualmente. É como se a criança dissesse: agora estou pronta para aprender algo novo e com complexidade diferente. Isso não gera atropelamentos no desenvolvimento infantil e é prevenção para Disfunções Cerebrais Mínimas, por exemplo;
- outro bem: não há estímulos para competição. Há uma segura linha de ensino onde observo que as crianças vão evoluindo em conjunto no adquirir dos novos conhecimentos e com reflexo no comportamento social. Outro dia tive a ótima oportunidade de ver os adolescentes, em fase de saída da escola por estarem terminando seu ciclo, irem brincar de maneira organizada, com as crianças do primeiro ano. Presenciei uma sensível manifestação de alegrias mútuas devido àquela interação;
- Assim a Pedagogia Waldorf, não prepara os seres humanos para a competição, por exemplo, o vestibular. Ela prepara os seres humanos para a vida, para as suas escolhas individuais. Conduz os adultos a resolverem problemas de maneira criativa e partindo de uma livre iniciativa. Quem sabe de seu valor não precisa competir com o outro, não precisa medir forças, não precisa derrubar o oponente. Quem se autodetermina, tem auto-estima e certamente adoecerá menos.
Caso alguém queira olhar para os “resultados” da metodologia Waldorf, leia sobre “Os sete mitos da inserção social do ex-aluno Waldorf”, pesquisa elaborada pelo casal de pais da Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo, Wanda Ribeiro (socióloga) e Juan Pablo de Jesus Pereira (engenheiro civil e empresário), disponível na home-page da Sociedade Antroposófica no Brasil (www.sab.org.br).
Clínica Médica e Reumatologia Antroposóficas. Consultor Biográfico
Adorei o blog, ja estou seguindo...parabénsss, siga o meu tbem... www.wagnerpoeta.blogspot.com...
ResponderExcluir