Método de ensino valoriza atividades manuais para despertar a criatividade e conquista adeptos no epicentro da alta tecnologia mundial
Publicado em 01/11/2011 | DA REDAÇÃO, COM THE NEW YORK TIMES - COM TRADUÇÃO DE ADRIANO SCANDOLARA
O essencial
Criado pelo alemão Rudolf Steiner, em 1919, o método Waldorf chegou ao Brasil em 1956. Entre seus principais diferenciais estão:
Materiais orgânicos
Evita-se o uso de plástico e outras substâncias sintéticas. Brinquedos e objetos pedagógicos são feitos de madeira, pano ou argila.
Trabalhos manuais
Valoriza-se práticas como marcenaria, tricô e outras que exijam esforço físico, concentração e criatividade.
Artes
Música, pintura e escultura fazem parte do cotidiano dos alunos e estão presentes em todas as disciplinas. Todos aprendem a tocar algum instrumento e a cantar.
Ensino em ciclos ou “épocas”
Durante um mês, por exemplo, ocorre a “época de História”, no mês seguinte vem a “época de Matemática” e assim com todas as disciplinas.
Não à tecnologia em sala de aula
Computadores e equipamentos eletrônicos são considerados desnecessários ao desenvolvimento saudável das crianças. A pedagogia Waldorf não condena a tecnologia, mas seu uso na educação só é aceito para alunos mais velhos, a partir do ensino médio.
As principais ferramentas de ensino de algumas escolas norte-americanas localizadas no Vale do Silício – epicentro da economia tecnológica e onde estão as sedes de gigantes como Google, Apple, Yahoo e Facebook – não têm nada de alta tecnologia: quadro-negro com giz colorido, estantes com enciclopédias, mesa de madeira cheia de apostilas, lápis preto, papel e agulhas de tricô. Não há um único computador à vista. Eles não são permitidos em sala de aula e o colégio até desaprova seu uso em casa. Essa postura faz parte do método Waldorf de ensino, adotado em vários países e presente em 82 escolas no Brasil e cerca de 160 nos Estados Unidos.
Essas escolas caminham na direção oposta da grande maioria das instituições de ensino. Vincular o aprendizado com novas tecnologias é um caminho defendido por muitos especialistas. Contudo, a metodologia waldorfiana está focada em atividade física e aprendizado por meio de tarefas criativas e manuais. Aqueles que apoiam essa abordagem dizem que os computadores inibem o pensamento criativo, a atividade, a interação humana e a atenção.
Entre os alunos de uma das escolas Waldorf de Los Altos, na Califórnia, três quartos são filhos de pessoas que trabalham nas grandes corporações do Vale do Silício e têm forte conexão com a informática. Alan Eagle, 50 anos, é formado em Ciência da Computação e trabalha na área de comunicação executiva do Google. Ele usa iPad e smartphone e matriculou os dois filhos, Andie e William, em instituições com essa metodologia. Como outros pais, Eagle não vê contradição na postura adotada com os filhos. A tecnologia, diz ele, tem tempo e lugar. “Eu rejeito a ideia de que se precisa de auxílios tecnológicos no ensino fundamental. É ridículo defender que um aplicativo de iPad possa ensinar meus filhos a ler ou a fazer aritmética melhor”, diz.
Comparação
Defensores do método Waldorf dificultam a comparação com outras metodologias. Em parte porque não são administrados testes padronizados nas séries primárias. Eles seriam os primeiros a admitir que alunos das séries iniciais podem não obter boas notas nessas provas pelo fato de não serem treinados segundo um currículo padrão de Matemática e Leitura. Diante disso, o debate recai na subjetividade, na escolha parental e numa diferença de opinião sobre envolvimento.
Paul Thomas, professor de Educação na Universidade de Furman (EUA) e autor de 12 livros sobre métodos de educação pública, diz que “uma abordagem parcimoniosa da tecnologia na sala de aula sempre beneficiará o aprendizado”. Contudo, ele afirma que “a tecnologia é uma distração quando precisamos de alfabetização, alfabetização matemática e pensamento crítico”.
Na área pedagógica, uma preocupação comum a respeito do método Waldorf refere-se aos casos em que um aluno é transferido para uma escola mais convencional. Na opinião da professora Maísa Pannuti, dos cursos de Pedagogia e Psicologia da Universidade Positivo, as crianças da educação infantil são as que sentem mais o impacto da mudança, já que as escolas Waldorf não alfabetizam até os 7 anos de idade. Entretanto, o processo de adaptação costuma ser curto. “Eles desenvolvem muito bem outros aspectos essenciais à primeira infância. Por isso acabam se adaptando rápido”, diz Maísa.
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