8 de nov. de 2012

O Circo



Ha exatamente um ano atrás estávamos eu, meu marido e meus filhos para a entrevista na Escola Waldorf que escolhemos quando fomos abordados por três crianças de aproximadamente 12 anos: "Olá! Vocês vão matricular suas crianças aqui? Já conheceram a escola? Hoje a noite teremos uma apresentação de circo na quadra de cimento. Se der, venham assistir. É uma ótima oportunidade de conhecer a Pedagogia!".

Ficamos lisonjeados com o convite e atraídos pelo interesse e segurança daqueles meninos em virem falar conosco em uma tarde de novembro em pleno ano de 2011, onde a maioria dos jovens sequer percebem os outros ao redor.

Foi a primeira vez que ouvi falar em CIRCO no currículo Waldorf. Infelizmente não deu para ficarmos já que morávamos em outra cidade.

Buscando informações no site da Federação pude entender perfeitamente que "o ensino teórico é sempre acompanhado pelo prático, com grande enfoque nas atividades corpóreas (ação), artísticas e artesanais, de acordo com a idade dos estudantes; o cultivo das atividades do pensar, inicia-se com o exercício da imaginação, do conhecimento dos contos, lendas e mitos, até gradativamente atingir-se o desenvolvimento do pensamento mais abstrato, teórico e rigorosamente formal, mais ou menos na época de ensino médio. Essa não exigência de atividades que necessitam de um pensar abstrato muito cedo é também um dos grandes diferenciais em relação à outros métodos de ensino. A vida entre a troca dos dentes e a puberdade está ligada ao sentir

Nessa concepção predomina o exercício e desenvolvimento de habilidades e não do mero acúmulo de informações, cultivando a ciência, a arte e os valores morais e espirituais necessárias ao ser humano."

Havia entendido, mas queria mais, queria vivenciar isso. 

Hoje, um ano depois, fomos conferir de perto, ao vivo e a cores esta proposta.

O dia estava nublado, com algumas pancadas de chuva... Chegamos na Escola por volta das 20h e fomos direto para a quadra de cimento. Os convidados foram chegando e se acomodando em seus lugares. Durante a apresentação, para nossa sorte, não caiu uma gota de chuva.

A decoração estava especial, colorida e alegre, estampando todo o trabalho da professora de sala com as famílias e amigues da escola. Conseguiram transformar uma quadra de cimento em uma verdadeira arena, pronta para receber os queridos artistas do sexto ano.

A professora de classe abriu a noite discursando sobre o significado pedagógico daquele evento, enfatizando sua satisfação com o resultado dos processos vivenciados.

O espetáculo começou. Não precisou terminar o primeiro ato para eu entender o sentido daquilo tudo.

O tema se resumia em um garoto que vivia na frente da televisão e do computador e se sentia muito sozinho, apenas com amigos virtuais.

Um dia encontrou, no mundo real, uma turma que brincava, que cantava, que fazia mágicas e que o convidaram para se divertir juntos.

Deram um verdadeiro show de malabares, bambolês, acrobacia em tecido, coreografias lindas com tiras e lenços, pularam cordas, fizeram contorcionismo, mágicas e muitas palhaçadas... Ao final, o garoto solitário percebeu o quanto é bom ter amigos reais e poder se divertir de verdade.

É impressionante a desenvoltura, a segurança e a superação daquelas crianças. O comprometimento com que executaram suas habilidades foi maravilhoso de se ver.

Nesta turma tínhamos duas crianças com necessidades especiais que, incluídas e totalmente à vontade, arrasaram em suas tarefas. Foi emocionante e motivador!

Estava tudo perfeito. Lugar acolhedor, crianças preparadas, platéia aplaudindo em pé e pipoca para alegrar o público. Mas o que mais me emocionou foi o comprometimento dos professores envolvidos.

Pude observar o olhar deles acompanhando todos os mínimos detalhes e, ao fim de cada apresentação, percebia que a satisfação não era pelo show em si, mas pela superação de cada um, individualmente.

Não foi com alguns, mas com todos. Um a um. 

O circo no currículo Waldorf, exatamente no 6º ano, não é apenas arte. Na fase do desenvolvimento onde se despedem da infância, os novos jovens vivem entre a luz e a sombra. o céu e a terra... Assim, o circo é união, é equilíbrio, é ritmo, é inclusão, consciência corporal, é respeito, é suporte, é cumplicidade, fala articulada, criatividade, humor, autoafirmação, autoconhecimento, segurança, é processo, edificação... E o amor desses maestros... Ah! Esse amor contagia, realiza e transforma. 

Ao final saímos preenchidos de alegria e entusiasmo. Dormimos um sono tranquilo com a chuva refrescando a madrugada.

Mais uma vez eu aqui... Levantando a bandeira. 

Eu acredito neste projeto.

Gratidão!

Um comentário:

  1. Sem palavras.....

    só lágrimas, porque você amiga conseguiu colocar em palavras, os sentimentos que compartilho com você.

    Querida Andreza parabéns pelo texto.... Professora Simone e as demais envolvidas parabéns e muito obrigada....

    beijos

    Kelli Corrêa

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