Elaine Marasca
Todos sabemos das dificuldades de se viver e conviver com a puberdade, por experiência própria, profissão, relações de família e sociedade.
Conhecer profundamente como funciona esse período de grandes mudanças, pode indicar a forma de se lidar e de se trazer conteúdos, de modo a oferecer o correto suporte cognitivo, respeitando o momento físico e psíquico com vistas à uma passagem harmônica para o mundo adulto.
R. Steiner (1861-1925) educador e filósofo austríaco, propõe o seguinte: quando a criança entra na puberdade, é preciso despertar nela um grande interesse pelo mundo exterior - ou seja, o mundo das coisas concretas.
Deve-se ensinar a elas, como as coisas funcionam e quais leis regem a realidade onde vivem. Esse anseio vive na alma dos jovens dessa idade. É a busca da verdade em todos os seus sentidos.
Deveremos trazer-lhes uma visão do mundo exterior com suas regras, causas e efeitos, intenções e finalidades.
Com isso, vamos despertar-lhes perguntas que inicialmente são enigmas que eles procurarão desvendar se defrontando com o universo e seus fenômenos. Ao acender um interesse vivo em direção às resoluções desses enigmas, estaremos propiciando-lhes a participação e intervenção na transformação do mundo.
Vive na alma dos jovens nessa época, um idealismo espontâneo que merece reconhecimento e estímulo por parte dos familiares e da escola, pois podem advir daí os sinais para um caminho profissional.
O real interesse pelas imagens do mundo e pelo outro, gera um desenvolvimento harmonioso e sadio; caso contrário, quando a escola e a família não conseguem guiar essa alma nessa direção, esta provavelmente, vai concentrar-se em si mesma e sua mente passará a elucubrar mil e uma coisas, desembocando, não raramente, em algo ligado apenas aos instintos, como o erotismo exagerado e a ânsia de poder.
Para evitar esse fim, a ação pedagógica deveria focar a necessidade de se dar respostas precisas e verdadeiras aos "porquês" das coisas, que surge imperiosamente nessa idade.
Como fazer isso?
É surpreendente observar-se o interesse e até a alegria desses jovens ao serem apresentados às causas, ao funcionamento, às leis que regem a natureza, os aparelhos, os fenômenos com os quais estão convivendo.
Sendo o professor um entusiasta, sua vivacidade e perspicácia poderá trabalhar nos assuntos cotidianos para exemplificar a química, a física, etc, podendo partir do todo para as partes ou vice-versa, sempre relacionando o achado ou a pesquisa com todo o universo. A formação da imagem de totalidade e interdependência de tudo e de todos, gera a semente da moralidade, da responsabilidade e do engajamento social. O jovem deverá reconhecer no professor uma segurança de si enquanto descreve os fenômenos, para fazer um juízo claro e preciso daquilo que lhe é apresentado. Esse é o momento do clarear, da razão, da verdade.
Dessa parceria deve nascer o entusiasmo, condição vital para o aprendizado dos 14 aos 21 anos.
Embora nessa idade se desenvolva a capacidade de julgar, não podemos esquecer que o juízo nasce da força da fantasia - portanto o ensino deverá ser permeado de imagens, pois vai se conectar com algo que ainda vive na alma desse jovem.
Se lhe oferecermos conteúdos puramente intelectuais, fatalmente perderemos o vínculo com eles - não falaremos a mesma língua, sairemos de sua freqüência, minimizando o entusiasmo para o aprender.
"Quando as crianças são levadas a aprender mecanicamente sem história, imagem ou ritmo, esse material não consegue ser "digerido" e permanece como corpo estranho sem se transformar em aprendizado podendo, anos mais tarde, gerar até mesmo doenças físicas". (Sardello, Robert; 2000).
A positividade é outro ponto importante nesse período; jamais deveríamos sugerir algo como: "isso nunca saberemos" - se assim procedermos haverá literalmente uma corrosão da alma desse jovem, especialmente dos 14 aos 18 anos.
Essa é, portanto, uma época extremamente delicada que exige compreensão e acolhimento, pois os possíveis erros cometidos aqui poderão ter efeitos para toda a vida futura.
Se não conseguirmos suscitar um verdadeiro interesse pelo mundo, trazendo-lhes um conteúdo rico, participativo e permeado de imagens positivas, não nascerá nessa alma um autêntico interesse pelo próximo.
O professor precisa ser um artista, no sentido de desenhar e adequar formas e tons de acordo com sua classe, levando em conta o conteúdo, as idades, os temperamentos, as habilidades, o meio social, etc.
Educar é arte das mais importantes; é essencialmente formadora e plasmadora de homens e mulheres com aptidões para exercer a condição humana e atuar na transformação e evolução da humanidade.
Nossa eterna gratidão pelos professores!
Refletir é preciso!
Elaine Marasca é médica em Sorocaba, autora do livro: Saúde se Aprende, Educação é que cura: da Pedagogia Waldorf à Salutogênese