8 de mar. de 2014

Aleitamento materno

Eliane e Silberto Azevedo

“A mãe inteira vive no leite materno.” R. Steiner

O aleitamento materno é o significado do mais puro amor, que une dois seres numa única expressão. É a continuação do processo de nutrição, cuidado, proteção e calor que começam no útero e que se completa no seio materno. (Rabboni, 2002).

Ao formar o leite materno a mãe se exterioriza por inteiro no ato da amamentação. Todo o seu mundo interno volta-se para fora, ela doa-se por completo, conferindo-lhe um sentimento global de si mesma, uma autoconsciência singular e única. O ato da amamentação é, então, ao mesmo tempo, uma doação completa de si.

Após o nascimento, ocorrem transformações profundas na forma de existência de uma criança. Durante sua vida embrionária ela é envolta, protegida, aquecida e alimentada dentro do útero materno. Com o nascimento, esta relação intima é quebrada bruscamente e a criança vê-se entregue a si mesma. Ela tem de se adaptar as novas condições de vida do mundo físico. Assim, o leite materno é a ligação entre ele e seu antigo abrigo. (CAMPOS, 1995).

O ato de amamentar constitui, portanto, uma transição importante, efetiva e indispensável da vida intra-uterina para a existência pós-nascimento. O leite materno não representa apenas uma composição perfeita de substâncias nutritivas indispensáveis ao recém nascido, mas carrega consigo também todo o calor materno que passa assim diretamente a criança. (CAMPOS, 1995).

Em uma visão antroposófica, através do ato da amamentação, todo ser materno flui, diretamente ao recém nascido sem que haja entre ele e a mãe nenhuma interferência externa, ou seja, o leite materno não entra em contato com o mundo físico, ele flui diretamente de um organismo vivo para outro. Desta forma este ato permite que a organização vital da mãe, as forças formativas de sua organização para o Eu, fluam de forma bem especial ao novo ser.

Além desta efetiva relação estabelecida entre mãe e filho, a amamentação apresenta como grande benefício a aquisição de resistência contra diversas doenças.
Por outro lado, de acordo com Ferriolli existe uma relação entre a amamentação e deglutição, mastigação, respiração, fala e pensamento que se desenvolvem no ser humano. Um bebê que é amamentado pela mãe desenvolve melhor suas funções orais predispondo-se menos a alterações no vedamento labial (boca aberta) na mastigação (unilateral, ineficiente ou rápida demais), na deglutição (invertida e com interposição de língua) e na fala (distúrbios articulatórios). Assim uma boa oclusão auxilia a elaboração correta das experiências anímicas, assim como a mastigação correta o “bem triturar” das vivências e o equilíbrio na resolução de seus problemas. Além disto, “é possível notar um embotamento do pensamento, dispersão e desatenção pela dificuldade em respirar, acarretando dificuldades de aprendizagem escolar pela pouca concentração”.

De encontro a esta importante relação de mãe e filho através da amamentação também está o Método Mãe Canguru ou Método pele a pele.

Este método foi idealizado na Colômbia com o objetivo de reduzir a mortalidade neonatal naquele país. O fundamento do método é de que colocando o recém nascido contra o peito da mãe, possa promover uma maior estabilidade térmica substituindo assim as incubadoras, permitindo alta precoce, menor taxa de infecção hospitalar e conseqüentemente melhor qualidade da assistência com menor custo para o sistema saúde. No entanto, quando adequadamente analisado esse procedimento não mostrou a melhoria esperada na sobrevida dessas crianças prematuras. Porem há evidências de impacto positivo do Método Mãe Canguru sobre a prática da amamentação e também que este possa reduzir a morbidade infantil. Por outro lado, não existem relatos sobre efeitos deletérios da aplicação do método (Método Mãe Canguru; Venâncio e Almeida, 2004).

Mas a atitude de promover um maior contato precoce entre a mãe e o seu bebê mostrou desenvolver um maior vínculo afetivo e um melhor desenvolvimento da criança.

O “Mãe Canguru” lembra bem a relação de cuidados que as índias têm com seus filhos, seguindo a mesma linha de atuação da medicina antroposófica. Isso se deve, talvez, ao elemento profundamente humano que é resgatado na relação mãe-bebê através dessa prática. O triângulo que ampara o “Mãe Canguru” é “Calor-Amor-Leite Materno” enquanto que a medicina antroposófica desperta para a importância do ambiente harmonioso, do calor da mãe (principalmente o calor espiritual materno) e da nutrição através do leite materno para promover o processo de encarnação de forma mais apropriada e transmitir adequadamente as forças formativas e plasmadoras que permitam um desenvolvimento global do bebê e uma chegada mais suave ao ambiente terrestre. Todos esses princípios são preenchidos pelo “Mãe Canguru” e desta forma, observa-se um ponto de encontro inquestionável entre as práticas antroposóficas e a tradicionais, quando essa última caminha em direção à valorização do Humano.

No Brasil o Método Mãe Canguru foi implantado na rede pública com a visão de um novo paradigma que é o da atenção humanizada à criança, à mãe e à família, respeitando-os nas suas características e individualidades.

Assim ao buscarmos as relações humanas mais naturais e preenchidas de calorosidade estamos indo de encontro à concepção de um mundo mais harmonioso.

“Tudo que é dado ao organismo humano através da alimentação de leite prepara-o para torná-lo uma criatura humana terrestre, coloca-o em união com as relações terrestres. Ele (o leite) torna-o um cidadão terrestre, mas não o impede de se tornar um cidadão de todo sistema solar.” (Steiner, 1913)

Ser mãe é uma benção, ser mãe que amamenta é uma dádiva, ser mãe que acolhe e transmite energia deve ser uma inspiração.

Fontes:
Campos, J. M. A. Mama e leite materno, Ampliação da arte médica. ABMA, ano XV n.2, 1995.
Ferriolli, B. A relação entre amamentação e pensamento. Disponível emhttp://www.alumiar.com/alumiar/index.php?option=com_content&view=article&id=1051:arelacaoentreamamentacaoepensamento&catid=64:medica&Itemid=66 Acesso em 05/05/2009.
Método Mãe Canguru. Disponível em http://www.metodocanguru.org.brAcesso em 05/05/2009.
Rabboni, A. Leite materno, amor e vida. Arte médica, ano III n. 3, Nov/2002.
Steiner, R. Ciclo de palestras em Den Haag. 1913 in Campos, J. M. A. Mama e leite materno, Ampliação da arte médica. ABMA, ano XV n.2, 1995.
Venâncio, S. I.; Almeida, H. Método Mãe Canguru: aplicação no Brasil, evidências científicas e impacto sobre o aleitamento materno. Jornal de Pediatria. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2004.

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