Postado por Equipe Elo, em 3 de abril de 2011
O intelecto brota nas crianças a partir dos 12 anos e elas têm uma necessidade orgânica de se tornar descobridoras, inventoras e fazer do professor, pai ou mãe os alvos dos seus desafios. Medir-se com o adulto, sentir o poder da palavra – a sua, claro, é sempre a última – lhes confere a satisfação do sentimento da própria personalidade.
Enquanto que a auto-afirmação da personalidade se afirma no correr dos anos, o corpo do pré-adolescente também sofre importantes transformações. Os membros, braços e pernas crescem a partir da extremidade, começando com as mãos e os pés. Qual o pai que não conhece este fenômeno de ter que comprar sapato novo a cada hora. Mas ocorre um esticamento geral , não só dos membros, também do tronco e do pescoço. No fim desse período estarão prontos os órgãos de reprodução. A natureza completou o aperfeiçoamento do corpo físico. Termina a infância e inicia a adolescência. Nós dizemos que o ser sensível adquire a personalidade própria e começa a aprender como usá-la. Com termos antroposóficos diz-se que ocorre o “nascimento” do corpo astral, o veículo da alma. Tudo isto não ocorre de repente; pode-se dizer que a PUBERDADE é um estado evolutivo entre os 12 e os 16 anos.
Como já vimos, o crescimento do corpo não procede de forma equilibrada. Às vezes vemos um nariz crescido num rosto infantil, ou pés desproporcionais antes do esticamento das pernas. Do mesmo modo, a maturação psíquica se realiza aos trancos e barrancos, com altos e baixos de variada intensidade, com estouros de aflição ou de alegria bastante desproporcionados. Um mosquito pode tornar-se um estorvo “elefantesco”, uma simples palavra é sentida como um raio que explode a estrutura delicada da alma, a qual ainda engatinha e só com o sustento (diga-se compreensão) consegue se erguer e andar livremente.
Em resumo, corpo e alma recém-nascidos, inseguros, tendo que confrontar-se com o mundo cheio de maravilhas a serem conquistadas e de perigos tentadores, desafios cada vez maiores etc.
Assim como o corpo precisa de alimento – e nesta fase impressiona a quantidade de alimento que consomem – a alma sente fomes de todo tipo de estímulos, de imagens diretivas, pontos de referências etc.
A recém-nascida personalidade está insegura, apenas tateando no campo da convivência social. Por isto ela não compreende nossas críticas pelos seus atos e trapalhadas. Quando o nenê puxou a toalha da mesa coberta com aquelas xícaras preciosas, ele de forma alguma compreende o desespero, a emoção e agitação da mãe, o que ele demonstra com seu olhar inocente e interrogativo. Quase a mesma expressão observamos no garoto de 13, 14 anos, quando o professor ou pai se arrebata, fica bravo, se excita, demonstra emoção crítica em relação a alguma expressão verbal irreverente ou comportamento inadequado: – “Que que eu fiz?” – ele pergunta. – “Não fiz nada! Você só pensa mal de mim” etc.
Existe uma regra de ouro que os adultos devem conhecer: nunca acusar a criança pessoalmente. Não dizer: “você é isso ou aquilo”. Devemos julgar e criticar o ato errado, o comportamento, mas nunca a pessoa do pré-adolescente, que ainda não tem a estrutura de ser responsável pelos seus atos no sentido pleno da palavra.
Cai muito fundo na alma, nesta época, ouvir alguém respeitado dizer : -”Você é mentiroso, você me desapontou, você é ingrato, perdido, ladrão” etc. O sujeito destes julgamentos não pode ser a pessoa, o indivíduo, o jovem em formação. Apenas o ato é ruim, a afirmação não é correta, verdadeira, o comportamento é incorreto etc.
Esta enigmática personalidade do pré-adolescente é uma espécie de pseudo-eu, uma espécie de ego provisório, que ora se fecha em suas imagens e sonhos íntimos, ora procura o companheiro ou amigo e, especialmente, a turma. Ou, ainda, torna-se cheio de espinhos para fora, porque não aguenta nossa invasão em seu íntimo. Porém, quando sente a nossa força, demonstrada de maneira objetiva e firme, pode reagir com mansidão e ser bem carinhoso. Importante é saber que ele precisa de alguém que o escute com compreensão.
As palavras TODO MUNDO e NINGUÉM são repetidas pelos adolescentes em mil ocasiões, para se defender ou para convencer alguém. Precisa-se fazer ou vestir o que TODO MUNDO faz ou veste e é impossível ir onde NINGUÉM irá etc. O estranho nisto é que muitas vezes estas palavras significam exatamente o contrário, por exemplo, quando querem conseguir algo que o pai hesita em permitir. “-Pai, TODO MUNDO vai naquela festa!”- afirma a filha. O pai se informa com os outros pais e descobre que NENHUM dos pais está a fim de deixar seus filhos irem, porém se deixaram convencer, ouvindo que TODO MUNDO vai.
Realmente, o sentimento de solidão é muito forte. “-Você não me entende, ninguém me entende, todo mundo é chato! Não aguento mais!” etc.
Música envolvente ou brutal, efeitos luminosos psicodélicos, efeitos sonoros com ritmos insistentes, gritos extasiados, álcool, drogas – qualquer um desses elementos leva a alma do pré-adolescente para estados do simples sonhar ao êxtase, ao estado da irrealidade e ao mesmo tempo à sensação de encontrar um mundo maravilhoso, uma pátria saudosa. O retorno à realidade é sofrido, fica o vazio, a depressão, a vontade de fugir.
Os educadores devem, além de preparar para os exames, harmonizar o pensar, o sentir e o querer dos alunos. Formar um esteio sólido de sentimentos éticos, de interesses sociais, de capacidades amplas, tanto mentais como práticas e artísticas.
Como a criança pequena aprende a se vestir, comer com garfo e faca etc., assim o pré-adolescente precisa aprender a usar seu intelecto, sua sensibilidade e habilidade no contexto social. Nós, os adultos, somos os guias nisto como o fomos outrora. Como antigamente a criancinha encontrava um portão fechado que a protegia de cair pela escada ou na rua, assim devemos propiciar regras e limites agora, para que a recém-nascida personalidade não caia onde é difícil de se erguer.
Eles devem produzir, não consumir. Tocar música por prazer, em conjuntos, pode trazer grande alegria e entusiasmo que continua vibrando quando terminou, sem deixar vazio ou depressão. Unir-se com colegas para um mutirão social ajuda a gastar a energia que sobra e preenche a auto-estima. A leitura ajuda a criar os momentos íntimos que alimentam, não esvaziam.
Como o corpo se torna um peso nesta fase, a tentação de se sentar diante da televisão é grande e bem compreensível. Ler contos em quadrinhos, em vez de livros com conteúdos adequados, é outra tentação que deveria ser superada por oportunidades variadas e estimulantes. O teatro é uma atividade muito oportuna, na qual o adolescente se supera, vivencia situações sem ter que expor seu íntimo ainda inseguro, vacilante, indefinido. Estará escondido atrás da máscara da pessoa que representa, e ele podendo se aprofundar no seu papel e assumir responsabilidade social num contexto lúdico.
O diário pessoal se torna um amigo íntimo. Os adultos devem respeitar a intimidade, que nesta fase se torna o espaço sacrossanto da personalidade, mesmo quando, exteriormente, o jovem não demonstre sua importância.
O adolescente que, na infância, aprendeu algum artesanato ou a tocar um instrumento musical, possui uma ferramenta importantíssima para enriquecer sua vida. E pelo hábito adquirido de exercitar habilidades, a sua força volitiva está à sua disposição por hábito e não por imposição autoritária.
É fácil ser enganado pelo adolescente. Devemos saber interpretar o sentido das palavras que usa. – “Você é chata! Você é uma mãe quadrada, antiquada!”-, às vezes é, na realidade um elogio; no fundo, ele respeita nossa coragem de ser coerente com nossos ideais. Entendamos, quando, com ironia, ele comenta que sua mãe é legalzinha, ou algo assim. Ser legal, no fundo, quando se trata de um adulto que ele julga, é algo como um ideal para ele; representa uma força interior, o verdadeiro amor.
Desejemos aos nossos adolescentes que possam encontrar adultos que lhes transmitam confiança e segurança!
Leonore Bertalot, pedagoga