Mais do que apenas preparar os jovens para testes e concursos, a educação precisa seguir por outros caminhos, centrando-se em valores humanos que podem definir a sobrevivência da sociedade humana a longo prazo.
Às vezes, o jovem “do contra”, revoltado e agressivo, de aparência niilista, está na verdade em busca de referenciais sobre o que, de fato, é a realidade por trás do estado de aparência social e do abismo que invariavelmente separa o discurso da prática. O cinismo da juventude pode muito bem (bem até demais, a passar imperceptível aos olhos de pais e educadores) camuflar o incubado romantismo idealista. O jovem pode vestir o manto do sarcasmo porque lhe parece a indumentária apropriada em uma sociedade cujos integrantes, com frequência, confundem postura madura e realista com desenvoltura em praticar a velharia. A atitude debochada do adolescente pode encobrir uma personalidade imantada de valores e ideais construtivos, de um jovem ainda à procura de parâmetros (a exemplo do comportamento de familiares e amigos mais velhos, como também de mentores no campo profissional, acadêmico e espiritual) de conduta virtuosa, exercida e comprovada na provação do dia-a-dia, que tanto expõe as fissuras do ego e as contradições humanas mais elementares. Em estudos de voz singular no pensamento espiritualista brasileiro de meados do século 20, o filósofo catarinense Huberto Rohden (1893-1981) demonstrou à sociedade que o magistério eficaz se alcança pela exemplaridade da conduta do professor. Em Novos Rumos para a Educação, Rohden afirmava que, “em última análise, não interessa a nenhum dos meus educandos o que eu sei, mas tão-somente o que eu sou”, O educador apenas “poderá servir de guia e mentor a outros, não tanto pelo que diz ou faz, mas sobretudo pelo que é”. Décadas depois, no âmbito da Conscienciologia, Waldo Vieira preconizaria: “O exemplarismo é a técnica básica da vivência da Cosmoética”. Para Rohden, o requisito imprescindível para o exercício da docência não estaria na bagagem intelectual do erudito, na facilidade para se comunicar do professor didático ou na persuasividade do expositor carismático, mas em “uma profunda experiência mística revelada em vasta vivência ética”, na capacidade do mestre em servir de verdadeiro modelo de indivíduo empenhado em semear e evolver em si “o germe divino que faz da natureza humana e que ser despertado e desenvolvido pelo homem”, ao exercitar o autoconhecimento e a auto-realização, “a chave da verdadeira educação”, em realidade, uma auto-educação. Educar significa incentivar em outrem o florescer de potencialidades sadias dormentes, o que no educando “dormita de melhor e mais puro”. Dando o próprio exemplo de genuína satisfação interior advinda da persistência em sobrepujar suas deficiências comportamentais e em sedimentar em si “os seus mais profundos valores humanos”, o educador sensibiliza o educando a perceber que, a despeito das adversidades externas, o indivíduo pode ser feliz caso persevere em se harmonizar com o universo, em se sintonizar com as normas, os bens, as aspirações e os valores éticos universais de consecução “da verdade, da justiça, do amor, da honestidade, da fraternidade”, método de auto-superação por intermédio do qual o ser se torna bom, o que “não quer dizer bonachão, nem bonzinho ou bom-bonzinho”.
O indivíduo bom é aquele que preza pela sua dignidade, ao homenagear a dignidade alheia. “É a dignidade, o valor intrínseco do próprio homem; o homem deve, livre e espontaneamente, evitar o mal e praticar o bem, não por causa de um punidor fora dele – humano ou divino – , mas para não ofender a sua própria pureza e santidade, para não profanar a sua nobreza e sacralidade, para não desvalorizar o seu grande e imenso valor humano. O homem deve ter de si mesmo uma reverência e um respeito tão grande que prefira sofrer qualquer injustiça da parte de outros a cometer uma injustiça ele mesmo – e isto não por motivos de ética dualista e tradicional , mas por causa dessa misteriosa metafísica e mística centralizadas no mais profundo reduto da sua própria natureza humana”.
Os educadores em sentido amplo, aqueles que, no setor público e privado, desempenham, formal ou informalmente, papel instrutivo em relação a outrem, devem ter presente que a situação equilibrada do indivíduo, no campo social, na seara profissional e no âmbito familiar, se otimiza quando age movido pela ponderada busca da realização existencial. Não existe realização existencial sem constante exercício do autoconhecimento. A futura inserção do jovem no mercado de trabalho e seu ingresso na comunidade universitária são preocupações legítimas das escolas de educação básica. Ao mesmo tempo, a saúde física e psíquica do ser humano, assim como o bem-estar social e familiar, requer o cultivo do autoconhecimento e de propósitos de vida edificantes – essa perspectiva passa ao largo das prioridades atuais do ensino fundamental e médio. Deve se converter em meta prioritária do sistema educativo formal e informal planetário. Sob o prisma Espiritualista (aqui empregado como sinônimo de ótica antimaterialista) e, normalmente, reencarnacionalismo, sobressai ainda mais a importância do jovem ter projetado de vida, ao se enxergar no adolescente uma alma velha, detentora de largo acervo de positivos talentos inatos e, por outro lado, com tendências comportamentais a serem recicladas e buriladas, para que não sejam repetidas, nem agravadas tragédias do passado, episódios graves de sua jornada evolutiva refletidos em “anseios e desgostos aparentemente inexplicáveis, insegurança e medo sem justificativa, que são remanescentes em sua consciência” superando os limites e avançando com outro direcionamento pelo caminho da iluminação interior, que é o essencial objetivo da vida”. A juventude se condiciona a se preparar para testes, provas e concursos, o que possui inegável utilidade e necessidade na sociedade contemporânea . Contudo, o desenvolvimento planetário auto-sustentável e a duradoura coexistência humana pacífica se concretizarão com educação básica mundial centrada em valores humanos, questão de sobrevivência coletiva a longo prazo.
Autor: Hidemberg Alves da Frota
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